Tudo bem, é a partida, mas de onde?
João Silva
Um assunto, por sinal, interessante e que divide muitos atletas profissionais, amadores ou meros curiosos.
Falo da estratégia na partida das provas.
Tenho colegas que não passam sem partir bem, logo dos lugares da frente. Conheci mesmo uma pessoa que sabia que ia "rebentar" em três tempos, mas que, ainda assim, fazia questão de partir na frente. Para as fotos, argumentava.
Depois, há os que preferem sair no meio do pelotão e, a partir dessa zona, começar a desbravar terreno. Normalmente, é nessa zona que me encaixo.
Por último, existem aqueles que relativizam esta questão e que não se importam de arrancar na cauda. O argumento é de que não estão ali para ganhar nada. Válido e aceitável.
No meu entender, sair na linha da frente implica um pulmão infinito e a capacidade de assegurar um ritmo altíssimo. Diria que são atletas que, na pior das hipóteses, vão ficar nos 35 minutos num prova de 10 km, por exemplo.
Por outro lado, se não houver pernas nem pulmão, lá se vai tudo num instante e depois o lado psicológico pode sofrer.
Os que partem no meio são, na minha ótica, os mais avisados, porque, tendo capacidade para isso, vão cavalgar de trás para a frente e vão ganhar ritmo gradualmente. Claro que nem sempre é assim e há muitas provas em que a gestão não corre necessariamente como estou a dizer. No entanto, pegando no meu caso, sinto-me muito mais confortável se sair no primeiro terço do meio do que na linha da frente. Porquê? Como não sou um velocista puro, necessito de ritmo e de cadência para conseguir chegar a um bom tempo. Ora, por essa razão, preciso de quilómetros nas pernas para evoluir bem. No geral, os meus melhores tempos foram alcançados assim.
Por último, partir no derradeiro terço do grupo de atletas vai exigir um enorme trabalho de sapa para chegar à frente e para fazer um bom tempo. Requer muito pulmão também e muita confiança. Há pessoas que fazem bem essa gestão, mas não me parece muito fácil. Isto é, a gestão deve fazer-se de trás para a frente, mas também é suposto que seja realista.
Tudo isto que referi aplica-se essencialmente numa prova de 10 km, por ser mais rápida, mais explosiva e por deixar menor margem de erro ao atleta. Numa de 21 ou de 42 km, a gestão tem de ser diferente, mais faseada e sempre a pensar num bem maior e mais moroso de alcançar.