Treinar sem o cantar do galo
João Silva
Pois é, meus caros, desde maio/junho que treino com o nascer do dia.
Começou por ser uma forma segura de fugir de eventuais contágios e, com o avançar do tempo, transformou-se numa forma de organizar o meu dia sem descurar as minhas responsabilidades de pai, marido e tradutor. Portanto, enquanto eles ainda estão a descansar (excepto, quando o Mateus tem uma noite mais intensa), eu vou à minha sessão de terapia, também conhecida como corrida. Vou pôr as ideias no lugar, definir estratégias desportivas e da vida pessoal, fazer planos para lidar com determinados assuntos.
Não menos importante, vou desafiar o meu corpo, tentar empurrar os meus limites e perceber que tudo isto me mantém vivo, me dá equilíbrio e que, quando por algum motivo não o faço, fico com o feitio de uma criança birrenta e grunho (é mesmo o termo) que nem um desalmado. Resmungo muito e, sem um dia de corrida, tudo isso é elevado ao quadrado.
Assim sendo, todos os dias este jovem se levanta às 5h00 e vai explorar o mundo que o rodeia. A realidade pode ter tanto de assustador como de fantástico. Vê-se vida a reerguer-se, a ganhar cor, a preparar-se para mais um dia. Vê-se o fenómeno do crescimento da natureza in loco.
Quando regresso, uma, duas ou três horas deppis, dependendo dos treinos, venho muito mais feliz e muito mais pronto a enfrentar o mundo. Tenho uma outra disposição para abordar a vida e as pessoas. De todos os horários em que já treinei, por ser uma pessoa madrugadora e com alguma ansiedade em despachar tarefas, correr antes de ouvir o galo cantar foi uma das melhores alterações que os meus treinos sofreram no último ano.