Crónica de uma série de VMA
João Silva
Estou a queimar os 20 minutos de aquecimento e a excitação (e o entusiasmo) está nos píncaros.
É a primeira repetição de uma série que é suposto deixar-me perto do farrapo.
Olho para o relógio do pulso esquerdo e vejo as horas. O do pulso direito assinala a distância e o "meu destino".
Pé a marcar ritmo e siga. Velocidade máxima. Mais do que aquilo o corpo não tem. Braços para cima e para baixo em coordenação com as pernas. O peito recebe o ar que a boca teima em armazenar num ritmo frenético.
Sente-se rapidamente o quentinho a invadir o corpo. Esbaforido olho para o cronómetro indignado por aqueles dois minutos demorarem imenso a passar.
Chegam finalmente ao fim e vejo que corri quase 600 m naquele tempo. É bom, para uma primeira série desta intensidade, é bom.
Começo a fase de recuperação. São dois minutos num trote quase cambaleante. Sabem a ouro aqueles dois minutos se recuperação, mas também são a contagem decrescente para mais uma sequência exasperante de velocidade.
Devo ser masoquista, penso. Eu adorei aquela sensação, aquele arfar e aquele ímpeto. Decididamente sou masoquista, constato.
Seguem-se as outras sete repetições previstas e, em cada uma, vou perdendo frescura. O corpo treme mais porque já não tem tanta energia. Ainda assim, mexe-se com a desenvoltura de quem quer mais, muito mais. De quem sente que este é o caminho.
Acreditar é um pouco disto: seguir no caminho trilhado na esperança de que dê resultado.
Termino a sessão extenuado mas esperançado.
Na retina fica-me uma das últimas repetições em que senti o meu corpo a mexer-se por inteiro, em que senti que o movimento de passada me obrigou a deixar "tudo" na estrada.
Foi a primeira vez que fiz um jogo de séries tão longo. Não terá sido a última