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Eram 05h00 e o telemóvel despertou. Já não estava propriamente a dormir, pois o filhote tinha acordado cerca de 40 minutos antes para mamar. Nem sequer me posso (nem quero) queixar, já que me deixou dormir cerca de 6 horas, com uma ligeira interrupção para saciar a barriguinha.
Como sempre, levantei-me, fui tratar de mim, tomar o pequeno almoço e vestir o equipamento, sem esquecer a parafernália que me dá a visão num treino realizado a estas horas.
Depois de ter posto o frontal, o dínamo, o refletor e o indicador de presença, lá saí de casa, mesmo a queimar as 5h30.
Antes de apanhar o sinal de GPS, ainda houve tempo para levar o lixo, uma rotina já com alguns meses. Não me queria atrasar mais, porque a iluminação da vila é desligada em Condeixa quando faltam 5 minutos para as 06h00.
Faço-me à estrada com um certo friozinho a raspar-me na pele desnudada pela ausência de tecido (nos antebraços).
Sigo pela praça, hoje ainda com luz, como fica mais bonita assim. Passo a pousada e corto pela rua do campo, muito mais simpático sem o nevoeiro e a escuridão do costume.
Lanço-me a Alcabideque, mais concretamente, por um caminho paralelo que cruza a Avessada e "desagua" no fim da serra. Na reta que lhe dá acesso, contemplo as luzes vermelhas no horizonte que servem de delimitador da serra. Nesta fase, há fascínio e contemplação pela natureza. Meto pela esquerda e passo pelo primeiro momento de medo. Não havia iluminação naquela zona, composta por estufas e matos dos dois lados, mas igualmente propícia a imaginações menos felizes. Mantenho o foco naqueles 500 m e concentro-me nos podcasts que vou ouvindo em regime de altifalante. É uma forma de não me sentir sozinho, embora adore correr sozinho. Sou surpreendido pela passagem de uma ratazana em fuga. Ela seguiu a vida dela e eu a minha.
Viro novamente à esquerda, recebo com agrado a luz artificial e entro no sopé da serra. A iluminação dos postes dá-me aquela proteção extra e la sigo até encontrar uns belos 100 m sem qualquer poste. Já eram 6h00 mas nem por isso o céu ficava mais claro. Já se nota que o verão está a ir embora.
Novamente invadido por algum receio, ultrapasso esta zona num bom ritmo (talvez ajudado por alguma insegurança injustificada).
Assim que coloco novamente os pés em Condeixa, vejo que a luz artificial já tinha ido dar uma curva.
Por outro lado, apercebi-me de que Condeixa-a-Velha ainda estava iluminada... Era ótimo, mas deixou rapidamente de ser pois os postés apagaram-se mal lá entrei (mera coincidência). A minha única preocupação era descer até à Arrifana com muito cuidado. Estamos a falar de uma subida/descida com muito pouca visibilidade e uma inclinação de 10%. Abençoado seja o meu frontal que não me falhou. À minha direita ouço a berraria dos camiões que atravessavam o IC2 rumo a Pombal.
Já dentro da Arrifana, recebo as boas-vindas do ladrar de um cão enorme que guarda uma propriedade. Como passo lá algumas vezes, já sabia o que esperar. Até aqui, muito poucos carros. Passou entretanto um que me parecia uma mota, já que só o médio do lado direito estava a funcionar.
Num breve momento de contemplação do espaço que me rodeia, começo a ver um horizonte mais claro, ainda cinza, mas menos intenso, do meu lado direito.
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Passo o túnel (assusta um pouco) e fico rodeado de pinhais e terrenos. Talvez a rotina me faça ver tudo isto com menos receio, mas nunca se sabe. No entanto, parar ou regressar nunca foi opção.
Aos poucos, sinto o corpo a ressentir-se de meses e meses sem um dia de descanso, mas sinto que ainda há força para mais hora e meia.
Chego a Ega e o dia tinha finalmente nascido, eram 6h47.
Viro para Campizes, cerca de 20 minutos de pura contemplação da natureza. Aqueles laivos de laranja, roxo e azul no céu pagam-me todo o sacrifício. Vou porque gosto, vou porque me faz feliz, penso.
Sem dar por ela, já estava a passar perto do cemitério junto a Casével, terra onde, segundo consta, também comem (ou comiam) gatos (Quiaios, a minha terra, também tem essa fama).
Faltava-me aquela sensação de felicidade de virar à esquerda para o Sebal Pequeno depois de desbravar a reta, sempre perigosa, entre Casével e Sebal.
Ai como é mágica aquela sensação de estar em casa, de sentir uma certa familiaridade com aquele espaço. Estava na Venda e faltava-me pouco mais de meia hora para acabar a minha missão do dia. Aproveitei o chamamento da natureza humana para arrumar o frontal e o resto das parafernálias.
Decidi não vir por onde tinha estipulado e fui até ao Intermarché. Fiz os três últimos quilómetros do treino entre o IC2 e a minha casa, um pouco incomodado pelo barulho dos camiões.
Acabei o treino eram 08h07. Cansado, sem ter feito um treino extraordinário, mas feliz por ter tido a hipótese de fazer o que queria: correr.
Este foi o relato do meu treino do dia 12 de setembro de 2020 (daí a minha referência ao verão)...olá, sou o João Silva e sou viciado em corrida!
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