Corridas da e na quarentena
João Silva
Foram três as sessões de corrida nesse período de confinamento e nenhuma foi propositada.
Ocorreram sempre na sequência de consultas com a esposa.
Foi curioso porque só no dia é no momento em causa tive a hipótese de fazer mesmo aquilo de que mais gosto: correr.
O objetivo foi sempre proteger a esposa e o bebé na gravidez (tal como o é agora que ele nasceu) e, por isso, não tive sequer a coragem de esboçar algum percurso longe da vista humana.
No entanto, naqueles três dias, apesar do medo de ser contagiado, consegui ser tão feliz como em poucos casos. E nem sequer foram sessões longas. Como não podia entrar no centro de saúde ou na maternidade, aproveitava e ia correr. Em Condeixa, do lado oposto à passagem de peões, mas em Coimbra, na zona do Cidral, o que fiz foi agastar-me sempre do raio de passagem de pessoas.
Não me arrependo, apesar de ser uma situação melindrosa, pois parecia que estava a fugir de tudo e todos.
Nessa vez em Coimbra, ainda antes de o Mateus nascer treinei mesmo com sapatilhas casuais, sem amortecimento, com a mala dos documentos na mão, sem óculos e com máscara. Apesar do desconforto na respiração, senti-me seguro.
Se as duas primeiras sessões foram em março e abril, a outra, mais prolongada, já foi em maio e aí estive nas minhas sete quintas, numa estrada escondida, sem movimento, lá fiz 40 minutinhos de sonho.