Profissional e amador numa só cabeça
João Silva
Já lá vai algum tempo, mas um dos atletas (no caso, triatleta) que sigo, falava da diferença entre um corredor amador e um profissional.
Tirando o óbvio ligado à remuneração, há um aspeto fundamental que distingue um do outro.
No caso, o atleta referia-se à questão mental. A sua tese era que um amador normalmente contorna a dor e que um profissional abraça a dor.
Se, à primeira vista, parece uma afirmação exagerada, há um fundamento em tudo isto.
Por norma, o atleta amador que pratica uma modalidade sem objetivos de maior não procura treinos técnicos duros, por exemplo. Ou seja, no caso da corrida, não se vai meter em séries de VMA, por exemplo, se não quiser melhorar a resistência e a velocidade.
Para um amador comum, o prazer está acima de tudo.
Ora, no caso do profissional, isso não é bem assim. Está lá o prazer, claro. Tem de estar, mas também tem de estar muito presente que vai passar por fases de dor. Porquê? Porque a dor é a fase que lhe permite evoluir. De outra forma, não é possível.
Essa submissão à dor é tão regular quanto necessária. E é também incontornável.
Onde discordo é no facto de isto ser apenas inerente a um profissional. Há muitos amadores com uma dedicação ao nível de um profissional e que pretendem evoluir, que também procuram a dor.
E sim, falo de mim. Tenho consciência dessa dor e da necessidade de a "encontrar". E a verdade é que a procuro e que sei que não consigo evoluir sem passar "pelo cabo das tormentas".
Onde posso ser considerado amador à luz da tese deste atleta é no facto de não procurar sempre essa dor. Ou melhor, não tenho obrigatoriedade de me submeter a esse esforço em determinadas fases para um torneio ou uma prova específica. Sou eu que determino quando estou em condições de entrar num ciclo mais intenso de treino.
Perde-se numas coisas e ganha-se noutras. Mas, no geral, concordo com a teoria avançada no início.