O tempo de cada um
João Silva
O bicho, como lhe chamavam, dificilmente se irá embora na totalidade. Provavelmente, ficará como algo cíclico. Tal como outras doenças.
Mas teve o condão de nos afastar do contacto humano. Sempre gostei da socialização, embora não fosse um fanático de toques e contactos físicos.
Desde o início de tudo isto que cingi os meus cumprimentos e as minhas proximidades à minha família mais chegada.
No entanto, chega uma altura em que é preciso dar o passo seguinte. Ou seja, estar em espaços com mais pessoas.
Esse, confesso, foi o medo que ainda não perdi por completo.
Estou vacinado e estive a treinar afincadamente para participar na maratona do Porto, prova onde estou inscrito desde 2019. A dada altura desta viagem, lesionei-me, o que deixou tudo .águas de bacalhau.
Mas, apesar de todo o empenho nos treinos, confesso que não percebi se estaria pronto para partilhar o espaço com milhares de participantes. Mesmo com partidas segmentadas.
Foi um bloqueio que se criou e que percebi quando comecei a ver fotos de provas de colegas e dava por mim a dizer que não seria capaz de estar ali.
A segurança absoluta foi roubada. Mas também é tempo de trabalhar a aproximação. E, nos últimos tempos, já me sentia mais tranquilo com a ideia.
Se o conseguirei fazer entretanto ou não é algo que ainda não descobri. Esta lesão também ajudou a fazer crescer a hesitação, ainda que por outras razões. Mas acho que é legítimo que cada um precise do seu tempo para se libertar...