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O que não mata, engorda e transforma-te num maratonista

Em 2016 era obeso, hoje sou maratonista (6 oficiais e quase 20 meias-maratonas). A viagem segue agora com muita dedicação, meditação, foco e crença na partilha das histórias e do conhecimeto na corrida.

Em 2016 era obeso, hoje sou maratonista (6 oficiais e quase 20 meias-maratonas). A viagem segue agora com muita dedicação, meditação, foco e crença na partilha das histórias e do conhecimeto na corrida.

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02
Fev20

De um ex-sedentário para outro


João Silva

Hoje falo-vos de uma pessoa que não precisa minimamente do meu reconhecimento para ser grande.

Com uma história de vida diferente, tem um ponto muito importante em comum comigo: ambos fomos sedentários. E ambos nos agarramos à corrida como tábua de salvação.

Logo nos inícios, quando me apercebi que a corrida ia mesmo virar paixão, decidi procurar mais sobre quem já andava nestas vidas.

Fruto do acaso, tropecei no blogue do José Guimarães, o De sedentário a maratonista.

Gostei tanto e revi-me de tal forma que acabei por ficar aficionado do seu blogue.

Aprendi imenso e fiquei-lhe tão grato que fiz questão de lhe dizer por e-mail o quão importante era "conhecer" alguém com uma história tão próxima da minha.

Seguramente, não precisa de qualquer tipo de endosso da minha parte. Na verdade, o José já é um grande exemplo para os amantes da modalidade. É muito prestável e suficientemente "terra a terra" para dar bons conselhos a quem está a começar.

A sua carreira de atleta fala por si. O bicho ficou-lhe de tal forma que andou a correr o Mont Blanc. Como se não bastasse, este homem transformou-se num autêntico homem de ferro (Ironman). Como tudo isto ainda era pouquinho, passou a triatleta.
Cansa só de pensar nesta roda vida.

No fundo, o que escrevo aqui hoje é apenas um tributo ao seu discurso despretensioso ligado à corrida, à nutrição, aos equipamentos de corrida, bem como às dicas e técnicas a quem se presta a evoluir gradualmente.


Defende que pretende ser para os outros aquilo que diz que lhe fez falta: uma base de conhecimento, uma plataforma de orientação para quem quer e precisa de dar o primeiro passo. Revejo-me inteiramente nesse papel.


Talvez por isso, no início, parecia uma criança à espera de um presente. Isto é: não largava o blogue à procura de novas informações do Zé.

Vale bem uma visita.

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01
Nov19

1, 2, 3, uma entrevista de cada vez


João Silva

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Foto: Chegada à meta na Corrida 4 estações Venda da Luísa em novembro de 2018

Não desfazendo de ninguém, porque não é, de todo, o caso, a pessoa que vos apresento hoje é um verdadeiro exemplo, um "monstro" incansável de correr que, tal como eu, adora correr muito e sem destino. Conheci-o pouco tempo antes de fazer a minha primeira maratona, mas due para perceber que o ia venerar, não pelos títulos, isso pouco ou nada lhe interessa, mas pela pessoa que é e pelos conhecimentos que guarda dentro de si.

Ter feito aquela primeira prova mágica na sua companhia, aliás, desfrutando da sua boleia também, foi uma espécie de "benção". Não vos consigo transmitir com fiabilidade aquilo que sinto de cada vez que o ouço dizer que tenho "garra". Foi a pessoa que mais boleias me deu em tão curto espaço de tempo, nunca treinei com ele, o que é uma pena, mas tenho muito respeito por tudo o que correu e por tudo o que suportou em termos de saúde para ser admirado por todos. Na nossa equipa, ARCD Venda da Luísa, é conhecido por "The Special One". Porque acham que é?

A humildade não se finge. Ou se tem ou não. Ele tem na dose suficiente para perceber também que é um bravo.

O meu objetivo era dar a conhecer a sua história a poucos dias de mais uma maratona no Porto. Infelizmente, não estará presente, o que, sendo sincero, me deixou muito triste no momento em que me explicou por que razão afinal não poderia ir. Sinto que temos uma espécie de "clã", porque tanto ele como eu estamos sempre a tentar puxar mais colegas para correrem aquela distância mítica. O José já conseguiu "prender" o sobrinho Fernando, um porreiraço sempre bem disposto, e o Fábio, seu afilhado e um tipo bem às direitas. Já nem vale a pena dizer que o seu filho mais novo, que é andebolista, também já foi "pescado" para estas andanças.

Portanto, peço-vos que leiam abaixo quem é este homem que já leva 86 provas de fundo no currículo, entre maratonas e ultramaratonas. Apesar de não poder contar com a sua presença no Porto, é uma forma de o homenagear. Estão a ver aquele avô que se senta junto aos netos para lhes contar histórias do tipo "no meu tempo"? Nunca me canso de o ouvir. São tantas as aventuras que não há repetição possível.

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Foto: Final da EDP meia maratona de Coimbra em outubro de 2018

  • Nome

José Carlos Fernandes

  • Idade

55 anos

  • Equipa

Até 2009 - Clube de Veteranos de Viseu
Até 2017 - Abutres Running Team
Atual - ARCD Venda da Luísa

  • Praticante de atletismo desde

Não tenho ideia mas sei que é desde muito cedo, talvez desde o secundário. Lembro-me de ir para o Fontelo em Viseu e correr com miúdos que treinavam com treinador para as Paraolimpíadas. Fazíamos perto de meia hora no sobe e desce do Fontelo e corríamos que nos fartávamos. O treinador deles deixava-me ir com eles para fora do estádio, pois queria que desfrutassem da sensação de correr à vontade sem circuito e cronómetro. Antes de ir para a tropa, fui Oficial Paraquedista e aí já gostava de sair de casa aos domingos de manhã e fazer umas voltas com cerca de 25 km.

 

  • Modalidade de atletismo preferida

 

Corrida em estrada, montanha ou serra. Para mim, a corrida de fundo e meio fundo é a modalidade que melhor permite relaxar e refletir sobre tudo e mais alguma coisa sem qualquer stress.

 

  • Prefere curtas ou longas distâncias

Longas. Sem dúvida, porque prolonga o prazer da corrida e permite descansar o espírito. As longas permitem-nos também "desfrutar da viagem", "andar por lá", como dizia uma amiga minha também corredora por prazer. Sejam provas ou treinos longos, gosto de "andar por lá" e o tempo que por lá andamos permite-nos conhecer, ajudar, transmitir as nossas vivências e conhecimentos e absorver também conhecimentos de outros. Todos os dias aprendemos, seja connosco próprios, seja com os outros amigos.

  • Na atual equipa desde fevereiro 2017

Precisamente na prova dos 111 km do trail de Sicó com 4 grandes atletas da ARCD Venda da Luísa (o Marco Oliveira, a Célia Santos, o Carlos Canais e o Rui Mateus), que, com um enorme espírito de sacrifício e força de vontade, em quase 5 meses resolveram dar o salto de provas com cerca de 30 km para os 111 km na Serra do Sicó.

  • Volume de treinos por semana

3 a 4 por semana

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Foto: Trail do Infante em Penela

  • Importância dos treinos

A importância depende dos objetivos e do atleta. Não tenho como objetivo o pódio e corro por prazer, por esse motivo, para mim os treinos são importantes porque posso desfrutar mais quando corro.
É mais do que óbvio que são importantes para chegar aos resultados pretendidos, mas também é verdade que conheço pessoas que correm e não vão às provas, por isso os treinos são importantes, no meu entender, para nos manter ativos e apaixonados pelo prazer da corrida e para continuarmos a conhecer e a desafiar de forma sustentável, claro, o nosso corpo.

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Foto: Trail de Alcabideque, Castellum trail 2019

  • Se tem ou não treinador

Não tenho treinador. A conjugação dos objetivos pessoais com disponibilidade pessoal e familiar não é compatível com a existência de um treinador, seja ele presencial, seja sob forma de "treinador por correspondência" como está muito em voga hoje em dia.
Considero, no entanto, que tanto um tipo de treinador como outro trazem uma grande mais-valia a médio e longo prazo quando o atleta tem ambições que sem ajuda (do seu ponto de vista) possam ser mais difíceis de alcançar.
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Foto: Momentos que antecederam a maratona do Porto em novembro de 2018

  • Aventura marcante

Há muitas aventuras marcantes. Mencionar apenas uma seria de uma ingratidão enorme.
Os Caminhos do Tejo em 2010 foram espetaculares pela convivência durante a prova e pela organização única até ao momento.
Os 101 km de Ronda em 2012: desde o levantar de madrugada para não falhar a inscrição da equipa de 5, onde se incluíram os meus amigos Fernando Fonseca e Ico Bossa, passando pela sopa de ovo organizada pelo Ico, até aos "motoristas particulares" que durante a prova nos brindaram com uma caneca de cevada líquida super fresca.
Os 100 km de Mérida em 2010 como primeira prova de 3 dígitos, onde devido à desistência de última hora do Fernando Pinto, tive de fazer sozinho a viagem de 5 horas, fazer a prova durante a noite e voltar sozinho, não sem antes, depois de sair de Mérida, parar para dormir 25 minutos.
O UTAX (Ultra Trail Aldeias do Xisto), como atleta, com o meu amigo e futuro coorganizador João Lamas e mais tarde, como vassoura, com o meu afilhado Fábio Fernandes, pelo companheirismo vivido durante tantas horas na Serra da Lousã.

A que realmente definiu um marco na minha vida no mundo da corrida, foi sem dúvida a Estafeta Porto-Lisboa em 2006 (se a memória não me falha, sem consultar os meus registos) e onde, pela primeira vez fiz perto de 70 km. Na altura o Clube do Stress, organização responsável pela prova, tinha bons atletas com muita experiência em grandes distâncias a marcar o ritmo da Estafeta, o que me permitiu perceber que estava mais do que pronto para dar o salto da Maratona para as Ultras.
No ano seguinte inscrevi-me na segunda edição da Serra da Freita e fiquei fã incondicional do Ultra trail.
Já conhecia o Trail praticado no Cross da Laminha e quadruplicar a distância do Vítor Ferreira era, no mínimo, quadruplicar o prazer de desfrutar da corrida, ainda mais numa Serra com a beleza da da Freita.
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Foto: Com o amigo Rui Monteiro no final das 4 estações na Venda da Luísa em novembro de 2018

  • Participação em prova mais longa

Caminhos do Tejo em 2008 com partida em Ponte de Lima e 2009 com partida em Vila Praia de Âncora com perto de 160 km, no entanto, foi em 5 etapas.
De 2010 a 2015, fiz os Caminhos do Tejo, de Lisboa Oriente a Fátima. A primeira vez penso que tinha cerca 146 km, mais km menos km.

  • Objetivos pessoais futuros


Não tenho objetivos. Pretendo sim continuar a correr como, quando e onde poder e, se possível, ajudando outros atletas a adquirir o prazer de correr de forma sustentável e apoiá-los, seja treinando com eles, seja a acompanhá-los no salto para as distâncias que possam ter como seus objetivos futuros.
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Foto: Comigo no final das 4 estações em Condeixa em maio de 2019

  • Como vê o atletismo daqui a 5 anos

É complicado prever o atletismo daqui a 5 anos. Houve uma fase em que apenas quem estava por dentro é que sabia das provas. O público em geral tinha alguma dificuldade, por não saber antecipadamente em se inscrever. Predominavam as meias maratonas míticas com a Meia Maratona de Ovar, Marinha Grande, Viseu, Nazaré. Nas provas locais predominavam as do Inatel e das coletividades locais. O custo  com policiamento e o cada vez menor apoio dos municípios e entidades particulares fez a primeira filtragem e desapareceram, na altura, algumas meias maratonas e muitas provas abaixo dos 15.
O BTT estava em alta e nas grandes superfícies comerciais de material de desporto só se via material de BTT e pouco de corrida. Nessa altura, corria-se maioritariamente com equipamento de estrada.
O aumento de provas fora de estrada trouxe maior sustentabilidade financeira á modalidade, e a partir de certa altura começou a notar-se um êxodo do BTT para o Trail. Muitos até acumulam estas duas modalidades.

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Foto: MUT em 2018


De há cerca de 10 anos pra cá, a divulgação das provas começa a chegar cada mais e melhor ao grande público. O incremento de percursos alternativos mais curtos e de caminhadas faz com que quem caminhou num ano volte lá no ano seguinte para correr.
Estamos numa fase caracterizada por uma grande proliferação de provas de atletismo. Algumas organizações com qualidade outras nem tanto. Algumas com intenção de continuidade, outras com intenção de ato isolado. Umas com um calendário já adotado pelos aficionados outras que não conseguiram ainda definir a sua própria identidade e dessa forma marcar posição.
Cada vez mais o atletismo amador está dependente da iniciativa de amantes da corrida, do trabalho no terreno, das horas que dão em prol dos outros.
A participação das autarquias locais, municípios, juntas de freguesia, associações locais é um fator determinante na sustentabilidade e continuidade do atletismo como o conhecemos atualmente.
Com tanta prova pelo país já não há muita desculpa para aquele pessoal mais sedentário não sair do sofá, isto porque a corrida vai até eles.

  • Como se vê no atletismo daqui a 5 anos

Espero ver-me com os mesmos objetivos que tenho atualmente. Sem tirar nem pôr, aliás, para daqui a 20 são os mesmos.

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Foto: Momentos antes da partida da maratona de Aveiro em abril de 2019 com o afilhado Fábio Fernandes, com o sobrinho Fernando Morgado e comigo

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