Já passaram três dias desde a aventura no Porto.
Foi um momento muito bom. Sofri o que nunca tinha sofrido numa prova destas, mas sinto que poucas foram as vezes em que me senti tão em paz pelo que fiz.
Quando olho para os números e vejo que fiquei em 418.º numa geral com mais de 2000 participantes ou que fiquei em 72.º lugar no meu escalão, não posso fugir à realidade: foi muito bom. Não foi perfeito, mas o corpo não deixou margem para mais. Assim sendo, a conclusão é fácil de fazer: dei o que tinha, tentei ir ao que não tinha, mas já era tarde.
O sofrimento com que fiz os últimos 10 km foi mais do que um sinal de que devia estar grato por conseguir chegar ao fim. Foi a quinta maratona oficial. Foi o melhor tempo de sempre: 3 horas e 19 minutos. Tirei dois minutos ao meu anterior recorde, também ele no Porto. Não posso ser garganeiro nem fingir que só o máximo é bom, porque o meu limite em 2022 foi aquele. E foi o mais certo. Aceito de bom grado este resultado, mesmo sabendo que fui correr pelas 03 horas e 15 minutos.
Pegando em todas as vezes em que fiz esta distância em treinos ou em provas (já lá vão 12), esta foi aquela em que cheguei pior, porque também foi aquela em que tentei um ritmo mais alto.
Nunca tinha feito uma primeira hora de uma maratona nos 13 km. O corpo ressentiu-se, mas estava preparado para isso (nos treinos). No fim, sobrou o foco, sobrou a garra. Os músculos queriam subir pelas minhas pernas. O músculo acima do joelho esquerdo latejava que nem um desalmado. Ainda assim está. O gémeo direito ameaçou subir e bloquear vezes sem conta no último quilómetro. Ainda hoje ao levantar dão sinais de que vão ficar com cãibras. As virilhas gritavam para eu parar e os tendões das coxas queriam romper. Que mais podia pedir? Acabei sem me conseguir mexer. Tive de me sentar depois da meta. Acabei feliz. Acabei pronto a deixar o corpo recuperar nos próximos dias e acabei pronto a voltar a chegar às 3h15m. Estou mais perto do que há três anos.
Análise mais detalhada:
Aspetos positivos: a minha confiança. Sem ponta de arrogância, senti sempre que estava preparado. O meu foco foi inabalável. Passei grande parte da prova com a mente e o corpo no mesmo sítio. Devo-o à meditação. A minha primeira metade da prova também foi excelente. Até de mais. Cheguei aos 20 km com um ritmo excelente, sempre na casa dos 13 km/h.
Outro aspeto positivo foi o convívio com o pessoal da minha equipa. Uma bela mistura entre "caloiros" e "experientes". É sempre bom tentar passar o bichinho das maratonas.
Aspetos negativos: Naturalmente, houve algumas coisas que não correram tão bem e que poderão ajudar no futuro, caso sejam melhoradas.
Tinha previsto fazer os primeiros 20 minutos a uma média de 10 a 11 km/h. O conforto e o entusiasmo daquela multidão fez-me ir a 12 km/h naquela fase. Mais à frente, deveria ter feito 10 minutos a 12 km/h após a primeira hora de corrida. Como estava muito bem, senti que podia ir a 13 km/h. O desgaste foi grande e acabei por não recuperar. Só percebi o erro aos 30 km.
Fiz muitos abastecimentos com intervalos mais curtos do que o previsto e gerei um grande desconforto no meu estômago. Ingeri mais água a partir de dada altura, o que aumentou os problemas de gestão da fadiga. Não levei isotónicos nem géis. Para chegar a este patamar onde estou agora, tenho de aprender a lidar com isso. Curiosamente, foi depois do isotónico, que tomei em desespero aos 35 km, que os músculos ameaçaram romper. Se foi disso ou não, não sei.
O outro ponto que tem de ser corrigido é a colocação do treino longo. O meu ficou a dois meses de distância, o que leva o corpo a perder alguma "tensão pré-prova".
Público: correr no Porto é correr com magia. Este ano não foi exceção, mas confesso que estava à espera de mais ânimo e de mais público. Este ano tiraram algumas bandas de algumas zonas e isso também levou a momentos de algum desconforto mental.
Trajeto: foi a primeira vez que fiz este novo trajeto. É um falso plano e dá a falsa sensação de que se consegue com facilidade. Senti falta de passar a Ponte D. Luís para Gaia. Aquele banho de multidão costuma fazer milagres.