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O que não mata, engorda e transforma-te num maratonista

Em 2016 era obeso, hoje sou maratonista (6 oficiais e quase 20 meias-maratonas). A viagem segue agora com muita dedicação, meditação, foco e crença na partilha das histórias e do conhecimeto na corrida.

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30
Nov23

3h12? 3h14? ou 3h15? - Recorde foi de certeza - Podcast com um convidado especial

Análise à Maratona do Porto


João Silva

Já lá vai quase um mês depois da maratona do Porto!

Que dia lindo, que emoções!

Com a tropa do costumo e com um enorme sentimento de pertença.

Podia dizer tanto em termos escritos, mas tem sido complicado ter o tempo mental necessário para me expor e deixar sair tudo o que me vai na cabeça por estas alturas.

Assim, decidi convidar alguém muito especial para vir analisar comigo a Maratona do Porto.

Podem ouvir o divertido episódio de análise ao desempenho no Porto no meu canal de Spotify.

Além disso, deixo-vos fotos do dia mágico e ainda a pergunta: bebi ou não bebi?

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13
Ago23

Ir para lá da dor:

O profissional e o amador


João Silva

É um elemento que distingue bem estes dois tipos de atletas.

A paixão reside nos dois e ambos podem ir para lá da dor. E ambos o fazem. Provavelmente com motivações e consequências diferentes.

O profissional expõe-se à dor porque é "obrigado" por um contrato. Se a dor não trouxer um resultado efetivo em termos de classificação, não valeu a pena. Como dizem os alemães, "ich kann damit nichts fangen" (não me serve de nada)! O profissional atinge e supera a dor e tem forma de o fazer todos os dias, pois tem uma estrutura que lhe permite "expor" o corpo ao desgaste e, ainda assim, render.

O amador atinge a dor devido ao compromisso moral que tem consigo próprio para se testar e superar. Na verdade, a dor não lhe traz grandes resultados em termos competitivos, por, no fim de contas, é como se não tivesse um efeito prático. Mas tem: a subida na escada da qualidade. O amador sofre, expõe-se e ganha um sorriso na cara e a certeza de que no dia seguinte vai tentar atingir novamente a dor, vai render menos e não vai ter uma estrutura para o ajudar a recuperar. Tudo o que um amador ganha é a realização do seu sonho. E isso significa tudo para ele.

Naturalmente, esta "caricatura" é muito genérica e até pode pecar por injusta. É um risco. Corrido por um amador. 

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26
Jun23

Conversas à espera de acontecer (vídeo)

#3 Maria João Benquerença


João Silva

Hoje sai mais um episódio de uma rubrica que me enche o coração.

Há sempre conversas à espera de acontecer. Esta já o era muito antes de eu e a João, como carinhosamente alguém lhe chama, nos conhecermos.

Esta mulher é fogo. No bom sentido. Também não quero problemas, não é por nada que lhe chamam a Treinadora Nazi (#marthaknowsitbetter)!

A entrevista decorreu a 29 de abril, precisamente no momento em que jantávamos em casa do nosso bom amigo Basílio logo após uma prova na Corrida 4 estações de Condeixa.

Houve de tudo: protestos pela hora, problemas de luz, chatices com a câmara, mantas para o camara man e conversa. Palavras. Ideias, partilhas. Das boas, que nos aquecem o coração. 

Então não é que a Maria João decidiu contar como é correr com três filhos em casa. E como foi abrandar a sua evolução quando apareceu a pandemia.

Podem encontrar toda a entrevista aqui:

https://www.youtube.com/watch?v=Z6297NIrAQo

 

P.S.: Importa referir que a imagem teve alguns problemas de qualidade devido à gravação noturna. Ainda assim, é tudo percetível e bem audível. Espero que vos traga tanto prazer a ouvir e ver quanto me deu a mim entrevistar a Maria João!

16
Jun23

Recorde pessoal na maratona e uma viagem aos infernos (vídeo)


João Silva

Consegui finalmente fazer uma maratona abaixo de 3h15. Na verdade, na distância oficial de 42,200 m, fiz 3h13 (a prova contabilizou mais de 42,500, o que deu 3h16).

Já passou uma semana e ainda está difícil de perceber o que alcancei.

Fiquei num fantástico 5.º lugar na classificação geral e num estrondo 1.º lugar no escalão de sénior masculino.

Foi uma prova que começou como um sonho, ainda antes de ir para Coimbra, e que teve continuidade até as 24, 25 km. A partir daí, virou inferno, do pior que já enfrentei e foram tantas as vezes em que pensei em desistir.

Cãibras nos gémeos, nos adutores e nos isquiotibiais, escaldão no rosto e nos braços, muita cafeína no corpo, tonturas... Valeu-me primeiro o extraordinário Basílio à chegada, depois os enfermeiros e ainda o incrível Tiago Santos, o médico mais tagarela que existe. Tenho sorte de ele ser da minha equipa.

Fiquei triste pela forma como cheguei, mas depois fui falando com os meus colegas de equipa Maria João, Fátima, Ana Fernandes, José Carlos, Carlos Patrão (ainda não é, mas...) e até mesmo com o meu estimado Ricardo Veiga e fui percebendo o que tinha acabado de alcançar.

Deixo aqui a minha análise de vídeo a tudo o que vivi em Coimbra e uma promessa: tão depressa não volto a acabar uma maratona sem sorrir, nem que isso me estrague os objetivos...

Análise no meu canal de Youtube:

https://youtu.be/h4YxEQMljGw

 

20
Mai23

Conversas à espera de acontecer (vídeo)

#1 - Basílio Simões


João Silva

Hoje trago história a este blogue.

A partir de agora, as entrevistas que fazia por escrito a atletas passaram a ser conversas gravadas... De forma natural.

A primeira ganhou vida hoje. O protagonista é Basílio Simões, maratonista meu vizinho e que também faz parte da ARCD Venda da Luísa. 

A conversa foi gravada em Aveiro, pouco depois de o Basílio ter feito mais uma meia-maratona e na ressaca da maratona de Paris.

Podem encontrar a conversa no meu canal de YouTube e lá ficarão a saber que o Basílio tem 55 anos e corre há cerca de 5, que é uma pessoa ambiciosa e que pegou nas maratonas de estaca. Tem quebrado os seus próprios recordes pessoais e as maratonas internacionais já são uma realidade bem presente na sua vida.

Recentemente, fez 3h26m em Paris!

Na conversa, também nos explica quem o puxou para estas vidas e onde vê o seu limite. Não, o Basílio não corre, também cuida da sua alimentação. Só não cuida do sono!

Ele explica tudo nesta conversa incrível que teve comigo. Obrigado pela confiança!

E agora deixo-vos com as palavras tal como foram ditas...

Conversas à espera de acontecer

 

09
Nov22

Uma aventura chamada Porto


João Silva

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Já passaram três dias desde a aventura no Porto.

Foi um momento muito bom. Sofri o que nunca tinha sofrido numa prova destas, mas sinto que poucas foram as vezes em que me senti tão em paz pelo que fiz.

Quando olho para os números e vejo que fiquei em 418.º numa geral com mais de 2000 participantes ou que fiquei em 72.º lugar no meu escalão, não posso fugir à realidade: foi muito bom. Não foi perfeito, mas o corpo não deixou margem para mais. Assim sendo, a conclusão é fácil de fazer: dei o que tinha, tentei ir ao que não tinha, mas já era tarde. 

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O sofrimento com que fiz os últimos 10 km foi mais do que um sinal de que devia estar grato por conseguir chegar ao fim. Foi a quinta maratona oficial. Foi o melhor tempo de sempre: 3 horas e 19 minutos. Tirei dois minutos ao meu anterior recorde, também ele no Porto. Não posso ser garganeiro nem fingir que só o máximo é bom, porque o meu limite em 2022 foi aquele. E foi o mais certo. Aceito de bom grado este resultado, mesmo sabendo que fui correr pelas 03 horas e 15 minutos. 

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Pegando em todas as vezes em que fiz esta distância em treinos ou em provas (já lá vão 12), esta foi aquela em que cheguei pior, porque também foi aquela em que tentei um ritmo mais alto.

Nunca tinha feito uma primeira hora de uma maratona nos 13 km. O corpo ressentiu-se, mas estava preparado para isso (nos treinos). No fim, sobrou o foco, sobrou a garra. Os músculos queriam subir pelas minhas pernas. O músculo acima do joelho esquerdo latejava que nem um desalmado. Ainda assim está. O gémeo direito ameaçou subir e bloquear vezes sem conta no último quilómetro. Ainda hoje ao levantar dão sinais de que vão ficar com cãibras. As virilhas gritavam para eu parar e os tendões das coxas queriam romper. Que mais podia pedir? Acabei sem me conseguir mexer. Tive de me sentar depois da meta. Acabei feliz. Acabei pronto a deixar o corpo recuperar nos próximos dias e acabei pronto a voltar a chegar às 3h15m. Estou mais perto do que há três anos.

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Análise mais detalhada:

Aspetos positivos: a minha confiança. Sem ponta de arrogância, senti sempre que estava preparado. O meu foco foi inabalável. Passei grande parte da prova com a mente e o corpo no mesmo sítio. Devo-o à meditação. A minha primeira metade da prova também foi excelente. Até de mais. Cheguei aos 20 km com um ritmo excelente, sempre na casa dos 13 km/h. 

Outro aspeto positivo foi o convívio com o pessoal da minha equipa. Uma bela mistura entre "caloiros" e "experientes". É sempre bom tentar passar o bichinho das maratonas.

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Aspetos negativosNaturalmente, houve algumas coisas que não correram tão bem e que poderão ajudar no futuro, caso sejam melhoradas. 

Tinha previsto fazer os primeiros 20 minutos a uma média de 10 a 11 km/h. O conforto e o entusiasmo daquela multidão fez-me ir a 12 km/h naquela fase. Mais à frente, deveria ter feito 10 minutos a 12 km/h após a primeira hora de corrida. Como estava muito bem, senti que podia ir a 13 km/h. O desgaste foi grande e acabei por não recuperar. Só percebi o erro aos 30 km. 

Fiz muitos abastecimentos com intervalos mais curtos do que o previsto e gerei um grande desconforto no meu estômago. Ingeri mais água a partir de dada altura, o que aumentou os problemas de gestão da fadiga. Não levei isotónicos nem géis. Para chegar a este patamar onde estou agora, tenho de aprender a lidar com isso. Curiosamente, foi depois do isotónico, que tomei em desespero aos 35 km, que os músculos ameaçaram romper. Se foi disso ou não, não sei. 

O outro ponto que tem de ser corrigido é a colocação do treino longo. O meu ficou a dois meses de distância, o que leva o corpo a perder alguma "tensão pré-prova".

Público: correr no Porto é correr com magia. Este ano não foi exceção, mas confesso que estava à espera de mais ânimo e de mais público. Este ano tiraram algumas bandas de algumas zonas e isso também levou a momentos de algum desconforto mental.

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Trajeto: foi a primeira vez que fiz este novo trajeto. É um falso plano e dá a falsa sensação de que se consegue com facilidade. Senti falta de passar a Ponte D. Luís para Gaia. Aquele banho de multidão costuma fazer milagres. 

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06
Nov22

Porto 2022: vi tanta coisa, vivi outras tantas e bati o meu recorde


João Silva

Fui ao Porto correr a maratona.

Saí de lá com um recorde no bolso e com imensas dores. 

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O tempo oficial de prova não está correto porque eles não contemplaram o facto de ter iniciado mais tarde (não passamos todos ao mesmo tempo no tapete dos chips). Portanto, o meu tempo foi de 3h19m47s. 

Foi o melhor numa prova dura.

Quando me sentir melhor, conto os detalhes e faço a análise. 

Foi excelente, não era o que pretendia, mas fiquei muito feliz. Foi o meu recorde. O meu corpo chegou sem nada a mais para dar. Não tinha hipótese. 

Estive com pessoas incríveis da minha equipa e encotrei bons velhos conhecidos nestas andanças.

Vi ainda coisas muito engraçadas e bizarras: pessoas a correr com os braços imóveis, pessoas com os pulsos para baixo e para dentro, pessoas a correr descalças e uns belos malucos a correr com o tronco desnudados.

Um dia feliz. Um dia bom!!

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05
Nov22

Porto 2022: é possível sonhar?


João Silva

Sim, é. Sempre. Além disso, sinto que o meu trabalho ao longo de sete meses me permite mesmo sonhar com um belo desempenho amanhã.

Estou entusiasmado e levo na bagagem a esperança de passar belos momentos naquela cidade. Amanhã é o grande dia.

Em termos de desempenho, os meus indicadores foram constantes nos últimos meses e andaram quase sempre acima dos 13 km/hora. É essa a intenção.

Vou à procura de fazer 3h15, o que seria o meu recorde. Atualmente, o meu melhor resultado está nas 3h21m.

Sinceramente, se as coisas encarreirarem como espero e como trabalhei, penso que é possível ficar mesmo abaixo das 3h15.

Digo-o sem medos, digo-o correndo o risco de me desiludir. Se assim for, não haverá problema: lamberei todas as feridas, tomarei o meu tempo e voltarei a levantar-me. Já aconteceu, irá voltar a acontecer.

Mas estou confiante. Tenho razões para isso. Nunca tive uma forma tão constante durante tantos meses. Os resultados das provas também sustentam esta ambição. Segui conselhos e dicas de treino de quem percebe da poda

Estou e vou de consciência tranquila, porque mais não podia fazer nesta fase.

Cá estarei daqui a uns dias para dar conta do que aconteceu de facto.

Uns incentivos desse lado serão sempre bem-vindos =)

04
Nov22

Porto 2022: gestão das dificuldades físicas e psicológicas


João Silva

Foi a parte mais difícil.

Pela experiência, reconheci bem as dores físicas. 

O plano deste ano foi muito mais disciplinado e sem exageros, mas sabia que ia gerar desgaste. A minha falta de descanso também não ajudou nesse sentido.

Ainda assim, fiquei muito orgulhoso pela forma como lidei com o aparecimento dos sinais de cansaço no músculo píriforme esquerdo (no ano passado, o mesmo problema no lado direito deixou-me k.o). Fiquei feliz como reduzi o treino e encurtei ciclos quando senti que o corpo me queria oferecer uma pubalgia ou uma tendinopatia, esta última ainda ameaça mas penso que está controlada.

Sinto que foi o primeiro ano em que fui o corredor que pretendo. Do ponto de vista físico, respeitei-me. Fui até onde podia.

Em termos psicológicos não foi assim. Não percebi o que me estava a acontecer. Exigi de mais em muitos momentos porque julguei que era o certo, mas era o errado. Já não eram estados de espírito, era uma forma de vida a entrar numa espécie de abismo. Honestamente, não sei por que razão isso não afetou a minha preparação em termos de vontade, de crença nas minhas capacidades. Talvez porque correr foi uma das formas que usei para sair do buraco. Emocionalmente foi difícil gerir períodos com pouco trabalho e dinheiro e momentos familiares mais duros no início do ano. E sinto que não estive à altura. Não podia ter estado. O lado bom disto é que, de certa forma, consegui canalizar isso para a corrida.

Umas vezes mal, mas muitas bem, cá cheguei. Estou preparado!

03
Nov22

Porto 2022: Affûtage/Tapering ou ficar um brinquinho


João Silva

Este foi o último ciclo de treinos até à maratona. Foi o do assentar do trabalho, o de limar arestas, o de ver o corpo a responder.

Sexto ciclo:

Duração: 03 de outubro de 2022 a 05 de novembro 

Especificação: 

De 03 a 09, reduzi os treinos, tirei os treinos técnicos e o ritmo não fugiu a 5'30" min/km, aumentei o número de dias sem corrida para dois. 

De 10 a 17, adotei o método do ciclo seis, com todas as situações técnicas, mas retirei 15 minutos ao último treino longo de sábado. No dia 16/10, fiz 1h30 em ritmo de maratona: 10' a 12 km/h, 40' a 13,2 km/h e 50' a 13,9 km/h.

De 18 a 23, reduzi o número de horas de corrida em 35 minutos (20 no sábado e 15 no domingo). Durante a semana, fiz os treinos de Fartleks na segunda e os de séries na quinta.

De 24 a 30, redução de 25% do número de horas de corrida. Andou a rondar as 4h-4h30 (tinha pensado que iria chegar às 5h30, mas optei por uma caminhada convívio de 12 km na terra). Cortei a metade os tipos de treinos técnicos: fartleks para 2-2'/1', 2-3'/1', 2 - 4'/1' e de séries para 5 x45"/45". No treino de sábado, tentei média de 12 e procurei os 13 km/h (ritmo maratona) nos últimos 15'.

De 31/10 a 05/11, o mínimo de corrida possível, pouco mais de 3 horas e meia e o máximo de hidratos de carbono nos dois dias anteriores à prova para carregar as fontes de glicogénio. Dormir, meditar e algum reforço muscular.

Objetivo: 

Recuperar e manter o foco. Criar um contexto positivo. Idealizar tudo. Idealizar o sucesso. Não agravar os problemas físicos que ameaçaram nas semanas anteriores. Encher as reservas de energia. Pensar positivo. Criar boas sensações.

Dificuldades:

Manter a cabeça focada na prova, criar isolamento, criar distância entre a ingestão alimentar extra para a prova e o normal, o pensamento no pós-prova.

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