De suster a respiração
João Silva
Foto retirada do canal do YouTube do Eurosport
Hoje abro uma exceção no agendamento das publicações aqui no blogue. O momento assim o exige.
Num ano tão estranho, não deixa de ser fantástico aquilo a que estamos a assistir no ciclismo versão 2020.
Primeiro foi uma vitória épica de um esloveno sobre outro no Tour de France.
Agora é um jovem, por sinal, português que eleva este desporto que tanto adoro a um novo patamar.
Quem segue ciclismo de forma regular, já ouviu falar no jovem João Almeida.
Quem acompanha o Giro e viu o seu desempenho no passado domingo só pode ficar grato por ter assistido à beleza mais pura do desporto.
Muitos falarão no João porque é moda, muitos ficarão tristes se (quando?) perder a camisola rosa, mas alguns verão um homem que, não sendo um favorito à vitória final, lutou até não poder mais. E mesmo quando não pôde, o João foi buscar força que não tinha para não perder a rosa.
Quando começou a descolar do grupo da frente, que fez uma prova de sonho para fazer lhe tirar rosa, o jovem das Caldas não se deixou intimidar, mesmo quando já não tinha nenhum colega de equipa para ajudar. Pior ainda, não havia ali ninguém por perto para fazer a ponte com o trio da frente.
O João mostrou a língua, deixou que o cansaço viesse ao rosto, mas foi isso que fez dele um grande.
No fim, segurou a rosa por 15 segundos. Entra na terceira semana como líder.
Se perder a rosa, o que é provável face à qualidade do segundo classificado e da sua equipa, poucos se lembrarão do passado dia 18 de outubro. Com o meu filho ao colo e preso ao ecrã, lembrar-me-ei que sustive a minha respiração e que senti um enorme nó no estômago ao ver um compatriota empurrar um pouco mais os limites do possível. Vi ser feita história no ciclismo do meu país e vi o Acácio da Silva, o Joaquim Agostinho, o José Azevedo, o Sérgio Paulinho e o Rui Costa da minha geração.
Vi e vibrei ao som dos apaixonados da Eurosport como o desporto é, de facto, uma obra do querer.