Os dias de merda podem valer ouro
João Silva
Alguém dizia há algum tempo que não se aprende com os momentos bons.
Na verdade, nos dias bons a nossa disposição para refletir no curso das coisas não é muito grande. Ficamos vulneráveis perante o sucesso.
Transportando isto para o desporto, a ideia é simples: em condições ideais, um treino brutalmente bom terá sido o reflexo de coisas bem feitas. Portanto, se não tiver sido uma coincidência, nao haverá muito a mudar.
Por outro lado, os dias de cão, aqueles mesmo merdosos em que as coisas não saem, seja na vida normal ou no desporto, vão levantar dúvidas. Vão meter-nos em causa. E é aqui que esse mau-estar pode funcionar a nosso favor. É aqui que encontramos a chave da evolução.
Mas tudo tem o seu tempo. Quando as coisas correm mal, é preciso tempo para encaixar e aceitar, para lidar com a frustração. Depois chega a hora de analisar de forma fria e honesta para connosco. Não adianta sermos moles. Temos de ir ao centro da questão e temos de ser honestos connosco.
A partir daqui, importa traçar novos planos que permitam mudar o que está mal.
Viver com dias maus é um pouco como viver no limbo. Tem tanto de mau como de bom. Precisamente porque ou nos ajuda ou nos enterra.
Embora seja uma pessoa muito emotiva, muito revoltada e impulsiva, tenho sempre este lado dentro de mim: no momento em que tudo corre mal, penso que haverá forma de tirar dali alguma coisa boa. E há, sempre, mesmo nas coisas horrendas da vida. Só que isso requer tempo e distanciamento.
Concordam?