Explique lá isso melhor
João Silva
"Fermentable Oligosaccharides, Disaccharides, Monosaccharides and Polyols" - vendo assim, isto diz-vos alguma coisa?
E se vos disser que os termos expostos acima resultam no acrónimo FODMAP? Se calhar, já vos é mais familiar.
Pois bem, antes mais, explico-vos o significado do dito: "oligossacarídeos, dissacarídeos, monossacarídeos e polióis fermentáveis".
Porque falo nisto e porque trago este texto para aqui? Porque se trata de um aspeto que afeta cada vez mais pessoas e que pode ajudar a explicar indisposições durante provas e treinos com coisas tão agradáveis como cólicas.
Desde logo, tem implicações intestinais, onde, como já se tornou chavão no mundo científico, se encontra o nosso segundo cérebro.
Com efeito, são alimentos, mais concretamente hidratos de carbono de cadeia curta, ou seja, de absorção supostamente rápida que não são devidamente absorvidos pelo intestino delgado, descendo nessa forma ao intestino grosso, onde, em contacto com o nosso microbioma, fermentam. Este processo de fermentação é tão indesejado que, apesar de alimentar a nossa flora intestinal, pode provocar muitas cólicas, dores infindáveis, flatulência, inchaço e distensão abdominal. A cereja no topo do bolo (nem a propósito) é que pode estar na origem da síndrome do intestino irritável.
Antes que alguns possam começar a pensar "eu bem sabia que o glúten fazia mal", vejam esta lista de alimentos: https://www.tuasaude.com/dieta-fodmap-para-sindrome-do-intestino-irritavel/amp/
É uma chatice não é? É que coisas como maçãs, peras, melancia, feijão verde ou lentilhas também são considerados FODMAP. Portanto, é muito mais comum do que se pensa e, em condições normais, o nosso organismo processaria o glúten, a lactose e a frutos e sem problemas. Aliás, na verdade, nós precisamos de tudo isso para garantir uma boa flora intestinal.
Dito isto, importa ainda dizer que um dos tratamentos mais comuns passa, após consulta de médicos e nutricionistas, pela ausência absoluta de todos aqueles alimentos que viram na lista durante um período médio de 6 semanas. A lógica passa por fazer extinguir os sintomas. E deixamos de os comer para sempre? Nada disso. O recomendado é introduzir, gradual e individualmente, os alimentos para que se possa perceber qual ou quais o(s) responsável(eis) pela inflamação intestinal. Portanto, trata-se de uma dieta temporária e que deve ser seguida com um propósito de saúde e por especialistas.
Não vão em cantigas nem naqueles embaixadores da demonização do glúten ou da lactose. Nós precisamos deles, em equilíbrio claro.
Não caiam em esparrelas como ter iogurtes naturais magros (marca Continente) com a menção "não contém glúten". Pois não. Sabem porquê? Porque o glúten não está presente nos iogurtes, só em alguns cereais.
Para finalizar, retomando a questão da corrida, nós precisamos de hidratos de carbono de cadeia curta (também de média e longa) porque são eles que levam a glicose aos músculos. E a glicose, meus caros, é o combustível dos músculos. Ah, e não se esqueçam de que é a glicose que vai dar origem ao glicogénio, reserva número de energia, por exemplo, para aguentar provas longas. Além disso, o cérebro é um músculo, o que significa que também não vai funcionar bem sem hidratos simples.
Naturalmente, quem sofre com FODMAP e precisa de restringir os hidratos de cadeia curta fica mais limitado em termos de produção de energia. A esse nível, por exemplo no ciclismo, já se adota outra dieta muito específica e que também é usada no combate à diabetes. Falo da dieta cetogénica. Escreverei sobre o tema num futuro muito próximo.
Imagem retirada de https://nutritotal.com.br/pro/o-que-significa-fodmap/amp/