Não há corredores a brincar e nem pretendo rebaixar ninguém, mas, caramba, ontem fui um verdadeiro atleta. Cheguei ao fim e fiquei orgulhoso de mim, não por ter feito um tempo excelente que valeu um 31.º lugar na prova (podem ver nas imagens abaixo), mas porque consegui gerir o meu desempenho e porque, a dada altura, percebi que já não tinha mais para dar e, mais do que tentar forçar, tentei limitar os estragos. Foi precisamente na altura em que compreendi que já não daria para fazer menos de 1h30. Ainda não foi desta, mas há de ser este ano, tenho essa sensação, sobretudo, porque este foi o meu melhor resultado em provas em 2019.
Analisando em maior detalhe, como se pode ver pela quilometragem, arranquei muito bem, ao contrário do que é meu costume. Na verdade, já tinha previsto uma prova em modo de contrarrelógio e, por ser em prova, "sabia" que o ritmo seria mais alto do que em treinos. Ainda assim, foi muito melhor do que esperava.
Como estava mesmo muito calor, optei por ingerir pequenas quantidades de água de 08 em 08 minutos. Foi muito importante e sem isso teria acabado numa valeta. As condições climatéricas não estiveram a nossa favor.
Ainda assim, foi dando para manter um ritmo alto, embora na parte final dos 06 km já começasse a sentir alguma necessidade de um sólido.
Levei uma gelatina em barra comigo, mas sou demasiado teimoso e tenho uma enorme aversão a ingerir açúcares adicionados. É uma loucura e nem sei bem o que poderia fazer em termos de resultados, se comesse o raio da barra.
Nesta fase, já achei que ia muito rápido e que poderia haver quebra mais cedo do que o costume.
Os tempos parciais acima refletem isso mesmo.
No entanto, talvez por me encontrar próximo de vários atletas com um ritmo muito bom e semelhante ao meu, mantive a cadência e fui muito constante. Foram cerca de 06 km ao mesmo ritmo. Isto só foi possível por causa dos treinos de fartleks.
A partir dos 12 km, comecei de facto a sentir quebra. Mais do que água, precisava de sólido, mas recusei-me. Claro que o corpo não quis saber e "castigou-me", ainda que de forma consciente, porque a ordem foi dada por mim. Percebi que precisava de estabilizar para chegar a uma ponta final mais forte.
Aqui foi muito bom, primeiro, ter perguntado a um atleta de outra equipa se queria fazer uma espécie de aliança. Passo a explicar: no ciclismo é muito comum unir forças para aumentar ritmo. É difícil de perceber, mas as cadências dos corredores ficam muito próximas e ora uns ora outros endurecem o ritmo. É como se um trabalhasse mais para "puxar" os outros, mas, na verdade, todos beneficiam. Chama-se ir na roda no ciclismo e também se usa no atletismo.
Foi um enrome sinal de maturidade porque havia momentos em que sentia que podia esticar mas depois ia acabar por ficar sozinho e perderia ritmo. Ou seja, ora abrandava para se juntarem a mim, ora eram eles a fazer o mesmo, isto porque houve elemento da equipa Nascidos para correr a juntar-se a nós os dois.
E assim fomos até ao quilómetro 18, mas cheguei a esse ponto e percebi que já não tinha força para aumentar a carga, tendo "deixado" um dos corredores seguir bem lançado. Foi nesse momento que voltei a ser atacado por um fenómeno de vazio, algo que explicarei nas próximas semanas, mas que não é mais do que uma perda súbita de energia. O corpo continua, mas o "motor partiu", para usar mais uma expressão do atletismo.
E foi aqui que percebi que amadureci como atleta. Porquê? Porque há um ano ficaria muito triste a exigir mais e mais de mim mesmo já não dando para mais e chegaria ao fim irritado, sem usufruir e a pensar que tinha sido um fracasso.
Ontem foi tudo menos isso. Senti orgulho e dever cumprido, vi que não deu para fazer menos de 1h30, objetivo que tinha proposto, mas dei tudo o que tinha, logo, não podia inventar. E, modéstia À parte, o tempo é bom. E é o meu melhor no ano em curso, portanto, fui e fiquei feliz e foi isso que me fui dizendo entre os 19 e os 21 km.
Acabei em sprint, esgotado, sem qualquer energia, mas feliz.
Já em casa, ao consultar os resultados, vi que fiz a minha melhor classificação numa prova do género, portanto, missão cumprida.