No meu tempo...
João Silva
Apesar de fazer muitas referências ao passado em muitos assuntos, ainda não recorro muito à expressão que usei no título. Talvez porque ainda não me sinta velho e, de certeza, porque não o sou. Curioso, em forma de antítese, a ideia do meu pai, que se acha velho e tem apenas 55 anos.
A propósito disso, há uns tempos, a falar de corrida, porque ele também foi atleta, disse-me "no meu tempo, não queríamos saber disso, era pôr os pés na estrada e correr". O tema incidia sobre a importância da técnica de corrida. Chutei para canto.
Mais recentemente, quando lhe expliquei por que usava sapatilhas de corrida, disse-me que não havia melhores do que as dele. Diga-se que as dele eram sapatilhas casuais normais, com uma sola rígida e ideais para deslocar uma rótula ao primeiro impacto.
Aquela conversa fez-me pensar nas muitas diferenças entre o corredor típico da época do meu pai e o da minha.
Tendo em conta que o investimento não era uma prioridade na altura, já que o dinheiro tinha para onde ir, não deixa de ser interessante que um corredor de há 35 anos so precisava de uma t-shirt e de uns calções. Quanto a meias e a sapatilhas, era o que houvesse.
Quando penso em mim e no que considero essencial, vejo que não é nada assim. Por outro lado, há que admitir, também se cai muito no excesso.
Voltando a mim: sapatilhas de corrida (mesmo que a um preço muito acessível), meias próprias, perneiras, collants no inverno, joelheiras por causa do impacto em alguns treinos, calções, luvas no inverno, t-shirt respirável, bolsa para telemóvel, gorro no inverno. Como corro de madrugada, ainda acrescento frontal, dínamos e fita refletora. Ah, e relógio GPS. Pouca coisa, portanto. É preciso uma sessão só para me vestir.
Mais a sério, há aqui algumas coisas dispensáveis, mas os tempos são outros. Mais do que de estilo, falamos de tornar uma atividade desportiva dura em algo confortável.
Tal como noutras áreas da vida, houve evolução e já nem me atrevo a ir para a mentalidade, porque aí as diferenças são mais gritantes. Alongamentos, exercícios complementares de reforço muscular e treino cruzado são coisas que ainda não existem para muitos corredores mais velhos.
E por aí, como se vê a evolução geracional naquilo que gostam de fazer.