O ano mais difícil
João Silva
De facto, este está a ser um ano mais duro em termos de forma. Obviamente que há toda uma situação externa muito complicada para todos, mas, honestamente, não me refugio nisso, porque sei que a minha descida permanente de forma teve outras origens.
O facto de praticamente nunca ter parado retirou-me capacidade de regeneração e de assimilação de processos.
O volume médio de 550 km por mês nesta fase foi muito mais contraprodutivo do que útil em muitas situações. Mas também teve pontos muito bons, não é necessário pintar tudo a tons de preto.
A proximidade de treinos duros não ajudou na recuperação. E essa foi uma grande falha que, mais recentemente, acabou por ter consequências desagradáveis para a minha evolução: o aparecimento de uma lesão, que, ainda assim, não teve uma origem relacionada com o cansaço mas sim com "velocidade a mais".
A ausência de treinos mais suaves, por exemplo, de sessões de rolo nos músculos retira frescura. Essa foi outra grande verdade que aprendi às custas do meu corpo.
O facto de ter sido pai e de descansar menos tempo seguido também bloqueou o progresso a dada altura. Ossos do ofício.
A incapacidade para implantar planos de treino mais equilibrados e consistentes também foi contraprodutiva. (isso mudou em junho deste ano e só foi interrompido agora por causa de uma contratura).
O ritmo e a cadência diminuíram e só melhoraram a espaços. (uma vez mais, algo que mudou muito a partir de junho.)
E foi aqui que entrou o ponto mais importante de tudo.
Passei meses a mentalizar-me de que corria mais do que aquilo que estava a acontecer e de que o meu ritmo normal não era aquele.
Um exemplo: em fases boas, consigo encaixar 18 km em 90 minutos de corrida (ritmo médio de 05 minutos/km).
Com todos estes problemas, passei a fazer habitualmente 16,50 km ou mesmo 15,50 km em momentos de maior desgaste.
Qual a importância de pensar sempre que corro mais do que no momento de baixa forma?
É que assim não me deixo cair no "é normal" ou "agora corro assim".
Da mesma maneira que passei a correr "pior" até abril, também consigo voltar ao "normal" e também provei que é possível atingir outro nível (num ponto avançado da preparação, cheguei a fazer quilómetros a 4'11 ou mesmo treinos de 2 horas ou mais a 4'42"/km). Isso ajuda a manter o foco num dado patamar.
No fundo, apesar de estar a ser o ano com mais períodos de baixa forma, tive a possibilidade de ser persistente. De me manter concentrado no ponto que queria atingir. E esse é o meu maior trunfo. Ajuda a relativizar tudo e mantém a crença na melhoria.
Se sei tudo isto e tudo o que deu errado, por que razão não corrigi?
Nas próximas semanas falarei sobre isso, porque as tentativas de corrigir foram muitas, mas isto, tal como a vida, não é "chapa cinco".