Do mau perder à aceitação
João Silva
Falo-vos de um menino que jogava à bola em pequeno e que detestava perder. De tal maneira que chegava a inventar desculpas para anular vitórias dos outros ou que destruía as balizas feitas com paus.
Esse menino era eu e isto começou com 10 anos e deve ter-se prolongado até aos 15/16. Refiro-me ao pico do mau perder.
O tempo foi passando e as derrotas (da vida e as do desporto com os amigos) foram-se acumulando. Portanto, havia dois caminhos: forçava o mau perder e minava tudo à minha volta ou aceitava e reconhecia quando os outros eram melhores do que eu.
Felizmente, foi a segunda opção a vingar.
Não fico especialmente maravilhado nem posso dizer que fico feliz pelas vitórias dos outros quando estas acontecem "em troca" de derrotas minhas ou de equipas que apoio. Mas aprendi a ser empático e, acima de tudo, a ser crítico e a reconhecer valor.
Penso sobretudo no futebol, mas isso também acontece no atletismo ou no ciclismo. Quando não consigo chegar onde quero, sou o primeiro a apontar o dedo (ae se aponto!), mas a mim, não aos outros. E sim, consigo ficar contente por alguém próximo de mim chegar a determinado objetivo.
Uma das grandes vantagens do atletismo é o facto de não dar para culpar outros pelos nossos falhanços.
Ainda assim, nas equipas federadas de topo mete muito trabalho coletivo, pois não é o atleta que se ocupa de preparar a sua roupa ou de ir comprar os seus abastecimentos, por exemplo.
No desporto amador, não é bem assim. É tudo "One man/woman show". Portanto, não faz qualquer sentido ignorar o bom trabalho dos outros que são melhores do que nós. É a lei do corpo de cada um que dita sucessos e insucessos (isso e o conhecimento/treino que cada um usa para evoluir).
Aceitar que alguém tem mérito e que nós não somos a última cereja torna-nos lúcidos...mas não nos pode roubar os sonhos nem as ambições.