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O que não mata, engorda e transforma-te num maratonista

Em 2016 era obeso, hoje sou maratonista (6 oficiais e quase 20 meias-maratonas). A viagem segue agora com muita dedicação, meditação, foco e crença na partilha das histórias e do conhecimeto na corrida.

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19
Nov19

Três anos nesta vida


João Silva

 

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Quando tudo começou, no dia 19 de novembro de 2016, estava tão longe de saber que ia redundar nisto, nas mudanças que sofri, na forma como agora vejo algumas coisas e, acima de tudo, na dedicação que tenho para com uma modalidade que virou paixão.

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Bem sei que o digo muitas vezes e bem sei que essa ideia encerra o chavão que muitos na mesma situação. Acho que não é fácil ver de outra forma e parece-me que quem está ou esteve nesta situação se revê um pouco no que escrevo.

Sair de casa naquela manhã de sábado com aquela chuva e aquele frio acaba por ser o reflexo do que ainda hoje faço.

Houve uma grande diferença da altura para onde me encontro agora: os 118 kg que carregava não me davam espaço para grandes aventuras.

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Já o ano passado o disse na mesma altura e volto a referi-lo: foram 3,5 km de um ardor enorme no corpo...mas, ao mesmo tempo, cheguei a casa louco e feliz.

Bem sei que muitos pensam em desistir após uma corrida, porque as dores são terríveis. Hoje já são diferentes, não tão prejudiciais, mas ainda as sinto. E sabem que mais? Tal como na altura no o fiz, hoje também não troco essas dores por nada. São um sinal de que estou vivo.

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E se puder descrever o melhor destes três anos, é precisamente isso que aponto: estou vivo e aprendi a gostar de mim e valorizar o meu esforço.

 

Portanto, naquele dia, dei o pontapé de saída. Depois, por portas e travessas, fui alimentando o gosto. Comecei a introduzir treinos funcionais para impedir a formação de peles caídas. Ao mesmo tempo, imperou a disciplina alimentar, sempre sem cair na tentação de facilitismos. Não tenho dúvidas de que a minha arma para isso foi o meu enorme gosto por conhecimento. Reeduquei-me em termos alimentares e tive a felicidade (não lhe chamo sorte) de ter ao meu lado a minha esposa e a sua capacidade racional e sem inclinações para fazer asneiras.

Portanto, o processo até foi "fácil", quando visto deste prisma.

De seguida, com o evoluir das corridas, da alimentação, da minha autoestima e dos resultados, foi dar asas à minha vontade de fazer bem em vez de fazer apenas.

Isto é mais um cliché e todos o usam, mas consegui perceber que foram a minha resiliência e a minha força de vontade os grandes responsáveis por já ter 3 maratonas e 10 meias maratonas, entre outras provas, até ao dia de hoje.

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Gosto de ser disciplinado e focado e não tenho dúvidas de que o desporto e tudo o que li me ajudaram a melhorar muito e a crescer como pessoa.

Acima de tudo, ganhei a força de acreditar nos pensamentos pó sítio, algo que a minha querida alma gémea fez e faz questão de me dizer desde que estamos juntos, já lá vão 10 anos e 6 meses.

Penso que não consigo exprimir mais nada em relação a este assunto. Precisaria de uma tese para explicar tudo o que vai dentro de mim. Sinto-me muito grato por me ter tornado atleta.

No meio deste percurso todo, consigo perceber que tive sorte, reconheço isso. Houve um alinhamento de fatores que me permitiram crescer desta maneira. Por outro lado, a sorte doeu tanto, foi conquistada, trabalhei para isso e investi tempo e dedicação nisso. Portanto, a sorte também foi forçada. No aconteceu simplesmente.

A terminar, sem falsas modéstias, arrisco-me a dizer que me vejo como um atleta a sério. Não ganho dinheiro com isso e nem sou dos atletas mais rápidos das provas nem nada disso, mas administro os meus treinos, investigo junto de quem sabe mais do que eu, estabeleço novos estímulos, diversifico tipos de treino técnicos e pratico todo um leque de modalidades complementares para me tornar um melhor corredor. Para "agravar" tudo isto, "sofro" de uma paixão incondicional pelo desporto e pela corrida em particular. São poucos os amadores que investem uma média de 12 horas semanais em treinos e que, além disso, ainda têm família e trabalho. Não não sou mais do que ninguém e recuso-me a ver as coisas por esse prima, mas, caramba, tenho motivos para ficar feliz, primeiro, por ter à minha volta, uma pessoa extraordinária como a minha esposa, e, segundo, por me ter tornado num atleta federado. Atualmente, são muitos os que o podem dizer. Eu digo-o e sinto-o.

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Em três anos, ganhei uma nova vida, um novo corpo, provei a mim próprio e aos meus que é possível, que dá para lutar pelas coisas, mesmo que os resultados não apareçam ou demorem a manifestar-se. Não menos importante: em três anos, ganhei um novo projeto de vida...que em 2020 se prepara para ganhar uma nova finalidade (e responsabilidade, diria).

Até lá, uma corrida de cada vez...e obrigado pela vossa presença nesta caminhada.

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