Em novembro de 2016 era obeso. Depois comecei a correr, eduquei a minha alimentação e tornei-me maratonista. Mais tarde, tornei-me pai. Correr é uma das minhas paixões. Ser pai é outra. Corro todos os dias.
Em novembro de 2016 era obeso. Depois comecei a correr, eduquei a minha alimentação e tornei-me maratonista. Mais tarde, tornei-me pai. Correr é uma das minhas paixões. Ser pai é outra. Corro todos os dias.
... são precisos 3 g de água para transformar 1 g de glícidos em energia muscular?
No processo de armazenar energia para uma prova, por exemplo, uma maratona, é importante perceber por que motivo é necessário ter uma excelente hidratação nos dias que antecedem a prova.
A conta que vos apresentei acima é importante para calcularmos o valor de hidratos de carbono necessário para uma boa reserva. Vai fazer falta no dia da prova. Estima-se que precisamos de cerca de 10 g/kg. No meu caso, por exemplo, teria de consumir aprox. 700 g de hidratos (de preferência, complexos, como batatas doces) até à véspera da prova para ter uma boa reserva energética na hora de fazer os 42 km. Isto porque a maratona exige energia permanentemente dos músculos. Como todas as provas de endurance.
Nunca adorei este método de acumulação de energia nos dias anteriores à prova. Por medo. Por causa do meu histórico de obesidade. Porque isso pode dar a mensagem errada ao organismo.
Mas dado ser tão comum no meio para sobreviver bem a uma prova desta envergadura, perguntou-me muitas vezes se não valeria a pena tentar. Se isso não me iria ajudar a melhorar o meu desempenho...
...os ombros tensos em corrida são um sinal de má postura?
Na cadeia de movimentos que nos leva a correr, os ombros devem assumir uma forma descontraída, deixando os braços subir e descer de forma fluida para não afetar o movimento global do corpo.
Se estiverem com demasiadas dores na zona lombar, deixem descair os braços durante uns segundos, como se eles "perdessem vida". Vai ajudar-vos.
O objetivo não é sentir os braços na cadeia de movimentos da corrida, é, ao invés, que eles vos ajudem a ganhar ritmo e a aumentar a rapidez.
Quando chegamos a meio de fevereiro, o dia começa a brotar logo de madrugada.
Em maio já se vê o dia pelas 05:30.
Isso é fantástico, sobretudo, depois de seis meses frios a correr com o escurinho da noite.
Só que depois habituamo-nos. Ao ponto de não estarmos preparados para que o negrume da noite volte a aparecer às 05:30 (que desplante) de agosto. Como assim, em agosto?!!! Mas é verão!
Pois é. Toca a chamar o vampiro que há dentro de nós e toca a ligar o frontal. É o momento de treinar novamente os olhos para escuridão. Com isso, vêm os percursos mais repetidos, porque há zonas onde não dá para correr bem com pouca luz natural.
É uma adaptação. É um ciclo. É a natureza. Mas uma pessoa fica mal habituada...
...só conseguimos aguentar a VAM durante 6 minutos?
A VAM é a velocidade aeróbica máxima e diz respeito à velocidade em que consumimos o máximo de oxigénio. É um bom avaliador cardiovascular.
Quando passamos estes seis minutos a um ritmo máximo, o nosso corpo entra num sistema de velocidade anaeróbia, ou seja, começa a produzir ácido láctico, o que faz decrescer o desempenho físico.
...cruzar os braços na corrida prejudica a postura e o desempenho?
Passo a explicar: o movimento dos braços aquando da corrida não deve levar a que estes passem à frente do nosso tronco (faço muito isso, infelizmente). Porquê? Porque tal movimento vai levar a oscilações no tronco e isso provoca desequilíbrio e problemas posturais.
Idealmente, os braços devem seguir o movimento das pernas e devem estar "por cima" delas, num movimento direito.
Pensem nos sprinters. É assim que os braços devem mexer-se. O truque está em adaptar a rapidez do movimento à natureza da corrida. Numa maratona é impensável mexer os braços à velocidade de um sprint de 100 m.
...por cada ciclo de quatro semanas de treino se deve fazer uma semana de recuperação?
É uma etapa que não tem muitos fãs no mundo da corrida mas que é vital para assimilar o volume de treino do ciclo e para o integrar no nosso corpo.
Nessa semana de recuperação, que não é uma semana de não fazer nada nem de estar de papo para o ar, a redução do volume de treino deve andar entre os 40 e os 60 por cento.
Apesar de o período em causa ser de maior descanso, também se pode e deve fazer uma sessão mais curta de treino fracionado ou intervalado, por exemplo. Não deixa o corpo entrar em modo de hibernação e ajuda a estimular os músculos.
Leram bem. A chave da evolução na corrida está na intensidade dos nossos treinos.
Quanto mais intenso melhor. Os músculos são estimulados recebem mais oxigénio e são obrigados a gerar mais.
Mas, como tudo, há um "gato" nisto: uma enorme intensidade tem tendência a criar um maior desgaste celular e muscular.
Pois é. Pois é, menino João! (Sim, estou a falar de mim). Maior intensidade obriga a maior descanso, porque a chave do desenvolvimento é o repouso e o soninho.
Quanto mais dormimos, mais tendemos a regenerar (dependendo dos níveis de treino).
Este é um processo demorado e não é fácil suportar treinos intensos, mas pode começar por pequenos sprints e "abanões" no final dos treinos normais. Isso já vai aumentar a necessidade de resposta do corpo.
Quem tem filhos e pratica desporto deverá entender este problema (também se pode aplicar o mesmo quando é para ir trabalhar ou às compras): falo de sair de casa para treinar (neste caso) sem acordar um bebé. É uma obra digna de se ver.
Fazer isto de madrugada e silenciosamente ainda é mais desafiante.
Basicamente, tenho de sair em pés de lã, nem ligo a luz do corredor, vou com o frontal ligado e voltado pelo chão. Rodo a chave muito devagarinho e, muitas vezes, só me calço fora de casa.
Às vezes, gosto de jogar ao risco e ainda tento levar a reciclagem para fora de casa por volta das 05h00 da manhã.
Quando regresso, a aventura é a mesma. Sempre com o máximo de cuidado para não acordar o bebé.
Tudo menos acordar um bebé.
E desse lado também têm ou ja tiveram problemas do género?
Logo em forma de ponto prévio, devo dizer que o artigo que sustentou esta minha publicação me foi passado pela minha estimada Diana, o que só prova o quanto ela também já está embrenhada no mundo do atletismo (na verdade, já estava. Sempre foi fã dos Jogos Olímpicos e costumamos passar belas sessões a debater performances).
Relativamente ao assunto de hoje, fiquei logo "preso" quando ouvi falar na questão das três passadas. Depois, não podia ficar indiferente ao testemunho de um campeão olímpico como o Carlos Lopes.
Na entrevista, feita pela publicação Corredores anónimos, o antigo atleta do Sporting revela que usava três tipos de passada.
Na verdade, antes de vos deixar a minha opinião sobre a questão, confesso que fiquei fascinado ao ler que o campeão nunca abandonou o seu trabalho. Segundo ele, o atletismo era efémero. Esta "filosofia" não mostra outra coisa que não uma pessoa dotada de um grande espírito de sacrifício. Não tenho dúvidas de que foi isso que o conduziu ao sucesso.
A propósito do tema em concreto desta publicação, consigo perceber a ideia das três passadas, até porque se percebe que cada uma é própria de cada vertente do atletismo que ele praticou.
Entre vós, desportistas e corredores, quando correm, sobretudo em prova, fazem-no sempre da mesma forma?
Já tinha lido sobre isso há algum tempo no blogue do José Guimarães e, depois de ter começado a correr, pude, eu próprio confirmar que o desempenho e os resultados requerem estratégias diferentes.
Basta pensar no seguinte: quem corre em trails, devido às irregularidades e obstáculos, por norma, tem de adotar uma postura com os joelhos mais elevados e a aterragem do pé tem de ser mais afastada. Em estrada, por outro lado, devido ao desgaste do alcatrão, a passada pode ser mais curta e o tronco mais direito (sem estar rígido). Com efeito, a esse nível, consegui perceber no último ano que uma das chaves para uma evolução positiva dos tempos de corrida está na colocação da anca e no levantamento do joelho. Ou seja: anca direita e passada com pé a aterrar com a almoda da planta e depois com o calcanhar. É algo que se treina e que demora algum tempo a aperfeiçoar. Além disso, a tendência do cansaço é para retomar uma passada mais curta e os joelhos não sobem tanto. Se experimentarem contrariar isso, vou comprovar o que digo em relação ao ganho de velocidade. Passam a dar menos passos, mas percorrem mais espaço em menos tempo.
Não sei se também dão atenção a esse aspeto, mas confesso que ligo muito e que procuro estar constantemente a subir os joelhos (ou a tocar com os calcanhares no rabo).
O outro tipo de passada que já experimentei foi a do corta-mato, que obriga a uma maior rapidez, continua a permitir um ritmo constante, mas traz alguns obstáculos ao terreno, forçando assim uma colocação distinta dos pés.
Quantas passadas já experimentaram?
Como definiriam a vossa forma de correr?
Caso pretendam, podem ler a entrevista aqui e ouvir o campeão Carlos Lopes em primeira mão aqui: