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O que não mata, engorda e transforma-te num maratonista

Em 2016 era obeso, hoje sou maratonista (6 oficiais e quase 20 meias-maratonas). A viagem segue agora com muita dedicação, meditação, foco e crença na partilha das histórias e do conhecimeto na corrida.

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20
Dez21

Uma vitória do corona


João Silva

Não podemos ficar reféns do bicho. Identifico-me totalmente com isso e, sempre dentro da manutenção das medidas de segurança, tenho procurado fazer algumas coisas que me davam prazer. 

Foi por isso que fiz uma prova no dia 08 deste mês. E senti-me seguro. 

O que mudou desde esse dia até ao dia 18, em que tomei a decisão de não correr na São Silvestre de Coimbra?

Era uma prova tão especial para mim, mas, a dada altura, comecei a ter medo de sair de lá infetado.

Esse medo apareceu quando soube que seriam mais de 2000 pessoas.

Esse medo cresceu depois de saber que um bom amigo tinha apanhado COVID dois dias antes.

Esse medo tornou-se insuportável quando me caiu a ficha a dois dias da prova e percebi que, se ficasse infetado, perderia o Natal com os meus e um evento familiar muito especial que vai ter lugar dentro de 20 dias.

Mas foi o medo que me fez desistir. Não tenho problemas em admitir isso, tenho dificuldades em aceitar que isso não é uma contradição com o que defendia antes deste episódio: uma criação de uma nova normalidade em que não ia deixando de viver, mesmo com medidas de segurança.

Andei às voltas na minha cabeça até ter tomado a decisão de não ir. Perdi o dinheiro da inscrição e abdiquei de lá ir levantar a camisola no dia anterior. 

E, por estúpido que pareça, admito que pensei no que pensariam algumas pessoas de mim. Sei que me acharam fraco. É um erro fazer isso, mas foi inevitável para mim. 

E pronto, lá fiquei por casa, junto dos meus. Não fui para o meio da multidão. Para alguns é uma coisa óbvia, para mim, foi muito custoso por se tratar de uma das provas que mais queria fazer. É a segunda vez em três anos que desisto de participar numa São Silvestre. Caramba!

Mas como podia viver comigo se ficasse infetado e tivesse de faltar ao batizado do meu próprio filho que acontece dentro de duas semanas?!

A corrida é muito importante para mim, mas nem preciso de dizer que o meu filho é mais.

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Não fui, é certo. Mas treinei. Sozinho como sempre. Na minha vila, toda ela decorada nesta altura do ano. 

Fiz o meu primeiro treino técnico de velocidade após a lesão.

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Soube-me tão bem!

E ainda tive direito à minha São Silvestre na minha vila:

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Esta é a vantagem de se ter crescido numa família com dificuldades: como não se pode fazer tudo, aprendemos a divertir-nos com pouco. 

E tudo isto de resistir é muito bonito quando não se tem nada a perder... Não era o caso...

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