Aquela obstinação lixada
João Silva
Ao fim deste tempo todo, já deu para perceber que sou claramente uma pessoa teimosa e obstinada. Vejo nisso um lado bom pela persistência, pela capacidade de luta e pela garra. Sem modéstias, acho que isso vinca a minha personalidade.
Por outro lado, aquele mais nefasto para mim, percebo muitas vezes que me estou a meter em terreno arenoso e, ainda assim, sigo em frente. É como a teoria de estar à beira do precipício e dar um passo em frente.
Reparei nisso em alguns aspetos do meu dia a dia, mas é nos treinos que mais noto isso.
São tantas as vezes em que percebo os sinais do meu corpo, mas procuro pôr de lado a relevância daquilo. Se fizesse o que deveria em termos de treinos, tinha percorrido muitos menos quilómetros. E, valha a verdade, muitas vezes é brincar com o fogo, porque as lesões podem aparecer e depois estragam o trabalho feito.
No caso da obstinação, falo nela por causa da minha atitude para comigo no treino de 31 de agosto.
Comecei na companhia do meu colega André Santos. A dada altura fiquei sozinho, continuei, mas percebi que tinha ficado vazio, sem energia, sem capacidade de resposta. Logo ali vi que não daria para fazer tudo o que queria, mas como já tinha tudo definido na minha cabeça, obriguei-me a ir e acabei o treino com 38 km. Pela minha vontade, teria feito 42 km, mas o corpo não quis. A partir dos 35 km, comecei a sentir quebras muito grandes. Porquê? Porque me recusei a abastecer com sólidos, tinha as barras normais, mas sou tão casmurro e não quero açúcares desnecessários no meu organismo. A questão é que não são desnecessários. Para fazer os 42 km e acabar bem é necessário comer as gelatinas.
No meio destas casmurrices, há um lado bom que pode ser muito útil para domingo: a obstinação ser usada para lutar até ao fim, para chegar àquela meta no Porto. Oxalá tenha juízo e seja obstinado pelo lado bom.