Sobrecarga, obstinação ou vontade
João Silva
Na sequência do texto de ontem, acho relevante separar esta tríade, uma vez que facilmente se podem confundir.
Qualquer pessoa diria, à partida, que não têm nada a ver umas com as outras.
Fazendo uso de uma frase tipicamente inglesa, "I beg to differ". Ou seja, não me parece de tudo que sejam assim tão diferentes. Ou melhor, que sejam conceitos separados uns dos outros, sem qualquer relação entre si.
No meu entender, tudo começa com a vontade, aquele "burburinho" na barriga que nos impele para fazer alguma. Pode ser confundida com força de vontade, sendo que a força aqui diz respeito ao todo, à "muita" vontade que se tem, por exemplo, quando se está num ambiente totalmente adverso. Um exemplo de vontade é estar rodeado de sedentarismo e, ainda assim, batalhar para praticar desporto.
Estou numa fase em que se tiver de me deslocar a algum lado, se for exequível, prefiro sempre ir a pé. Para mim, é mais uma forma de fazer exercício.
Ter muita vontade para fazer alguma coisa, neste caso, praticar desporto pode redundar facilmente numa sobrecarga. Ora aqui está algo que me sucede com muita frequência. Como quero fazer muito, sempre sem parar, e me interesso por vários desportos e sou um entusiasta da inovação e da diversidade, por vezes, faço semanas de treino intermináveis, uma média de 3h por dia em seis ou sete dias por semana.
Apesar de começar com uma boa vontade, esta sobrecarga vai transformar-se num elemento negativo, a nível físico, por causa das mazelas e do desgaste em articulações e ossos, mas também a nível psicológico, com o aparecimento de muitos episódios de mau humor ou de irritabilidade excessiva. A sobrecarga também se manifesta muitas vezes pela falta de vontade e pelo adiar do exercício. Por exemplo, em mim isso sucede quando acabo o treino de corrida, ainda me falta o treino funcional, mas fico a enrolar até finalmente pegar na tarefa.
Forçar demasiado, de forma permanente e sem qualquer tipo de lógica, contra todas as "respostas" do corpo e contra todos os sinais, vai redundar em obstinação, uma espécie de teimosia com consequências graves para o corpo. Esta é o aspeto mais melindroso desta trilogia. E é a grande responsável por lesões graves e difíceis de debelar.
Se puder dar um conselho a este propósito é que se foquem na vontade e que estejam sempre em alerta para os sinais que o corpo vos vai dar. Caso contrário, correm sérios riscos.