Ser treinador
João Silva
Há muito tempo, um colega disse-me que eu dava ares de perceber muito de corrida e que poderia ser treinador.
Em primeiro lugar, sabe sempre bem ouvir este tipo de palavras, de reconhecimento, no fundo.
Depois disso, deixei entrar aquelas palavras e comecei a pensar na ideia.
Na verdade, já em adolescente tinha esse bichinho em mim quando procurava conhecer e perceber táticas de futebol e quando procurava dar instruções aos colegas das minhas equipas. Além disso, força para me motivar e para motivar os outros nunca me faltou, felizmente. O espírito de equipa e de pensar no coletivo está dentro de mim, apesar de ser uma pessoa que pense para o individualismo, mesmo quando sabe que isso é prejudicial.
A juntar a tudo isto, sou alguém que procura muito conhecimento, que gosta de perceber mecanismos e que tenta implementar ideias novas com o objetivo de melhorar. E ainda tenho tolerância aos erros (dos outros, não dos meus).
Mas tudo isto tem alguns pontos contra: primeiro, é necessário conceder autoridade a quem lidera. Se fosse treinador da minha equipa, por exemplo, seria necessário que reconhecessem em mim esse líder. Não me posso queixar de falta de reconhecimento dos meus esforços.
Perante tudo isto, confesso que gostaria de ser treinador de atletismo. A nível individual, de acompanhamento de cada atleta. Tenho falado com vários atletas e muitos me pedem dicas e isso desperta em mim uma enorme vontade de partilhar conceitos, de torcer por eles, de os ver evoluir. E não sabia que era possível tirar prazer disso em termos pessoais. A verdade é que a meditação e a psicologia me fizeram mudar essa forma de pensar, porque o treino dos outros cria em nós um sentido de missão, de partilha do desporto, algo que só quem o pratica consegue sentir por igual. Treinar alguém é também acreditar no desenvolvimento da pessoa e no seu tempo de evolução. É respeitar isso. Respeitar que não são iguais a nós e que são tão válidos para eles como os nossos são para nós.
Talvez o meu amigo Ricardo Veiga já soubesse que tenho isso emkm, na minha pessoa. Talvez. Como sempre. E talvez seja por isso que hoje treino a Fátima e que a tenho ajudado e que já tenho o Marco em "compromisso" e o Vítor como promessa para quando quiser fazer a sua primeira maratona.
Para já, pelo menos. Mas fazer isso é algo que me dá imenso prazer.