Sem vontade para participar mas com final muito feliz
João Silva
Como tinha dito antes, esta era a última etapa do circuito 4 estações em 2019.
Uma prova remodelada com um percurso novo e uma distância também ela diferente.
A juntar a tudo isto, a possibilidade de rever bons velhos conhecidos destas andanças, como a minha cara Lígia, que teve um fantástico desempenho na maratona de Chicago em outubro passado, e os colegas de equipa.
Todos estes eram fatores que, seguramente, tinham tudo para motivar. Contudo, talvez por estar agora numa fase de maior introspeção fruto de todas as mudanças que vão ocorrer na minha vida em 2020 e de algumas considerações que prefiro guardar para mim, não estava mesmo nada motivado para fazer a prova. Para correr, sim, estou sempre, mas, não querendo ser rude, precisava daquele tempo para um treino a sós com a minha cabeça. Aliás, tanto assim foi que nem no próprio dia acordei com aquele bom feeling.
Além disso, uma constipação chata, fruto de treinos debaixo de belas cargas de água, também não ajudou mesmo nada a "set the mood".
É o que é e há dias assim.
Quanto à prova, estando a reiniciar um novo ciclo de treinos após a maratona, não tinha a mesma capacidade pré-maratona. Anyway, o meu corpo tinha-me reservado mais umas surpresas agradáveis.
Seja como for, os últimos treinos da semana já tinham dados boas indicações e sabia que não estava mal, mas que precisava de abanar o corpo em algumas fases para acabar bem.
Na prova, não foi preciso dar estímulos adicionais para render.
Por causa das conversas paralelas após a foto de "família", não arranquei colocado onde queria ou gosto. Portanto, com as estradas estreitas, tive de tentar passar pelos pingos da chuva para me chegar a uma zona mais confortável.
Valha a verdade, o percurso foi bem mais duro do que esperava, mas adorei genuinamente. Comecei muito forte.
Durante meses, tive medo de arrancar forte e "morrer" rápido, mas os meus treinos ajudaram a dar-me confiança, mas também capacidade muscular e respiratória para ter um arranque sustentável.
Olhando para trás, estive "coerente" comigo nas três grandes subidas, sendo que foi mesmo aí que consegui ganhar mais vantagem e progressão.
A última subida foi a mais durinha, claro que custou um pouco, mas foi feita com a anca bem levantada e direita, com recurso a ziguezagues para aumentar a progressão e com uma boa cadência que depois utilizei a meu favor para descer rápido e forte: joelhos bem levantados e passada bem larga como nos treinos. Só faltou ter uma aterragem mais suave da planta do pé e isso custou-me um pouco, porque senti mais o alcatrão no corpo.
Seja como for e é isto que me deixa mais contente e feliz (muito mais do que o tempo): as minhas provas (qual reflexo dos meus treinos) têm sido muito consistentes, não tenho notado quebras e chego à meta com o corpo em forma, sem dar mostras de cansaço. Sinal de que estou a trabalhar bem e que as dores dos treinos depois se transformam em coisas boas nas provas. Modéstia à parte, sinto-me muito mais consciente da energia e da força do meu corpo.
Quanto a tempos, fiquei feliz: o meu relógio marcou 00:50:32, o que foi perfeitamente dentro das minhas projeções. Abre-me boas perspetivas para o campeonato distrital de Coimbra em março. Até lá, sofrer...e desfrutar.
Custou chegar aqui, mas custa mais não estragar o que foi feito.