Porto 2022: estou doente e estou a cuidar de mim
João Silva
Estou doente.
Escrever este texto tem tanto de bom como de difícil e talvez por isso esteja a tremer um pouco enquanto o faço.
A cerca de um mês desta prova, cedo finalmente: fui procurar ajuda psicológica. Estava doente. Ainda estou, mas agora estou a ser acompanhado.
Correr é um pequeno grande tudo para mim, mas correr uma maratona no meu estado mental de outubro seria triste.
Cheguei às fronteiras da depressão ligeira. Cheguei onde nunca pensei que estaria, de onde sempre pensei que a minha mente me protegeria. Nada disso aconteceu e eu fiquei doente. Já assim andava há muitos anos, nunca nestas dimensões.
Em fevereiro deste ano, sinalizei ao SNS que precisava de apoio psicológico, mas eles devem estar a precisar bem mais desse apoio do que eu, porque nunca me disseram nada.
E os dias passaram. As noites passaram. Tudo passou e eu cada vez mais doente. Sem ver. Sem perceber o impacto dos últimos dois anos e meio na minha vida, acreditando sempre que ia conseguir resolver os meus problemas. No fundo, já tinha sido acompanhado há seis anos. Pensei que tinha chegado. Não tinha e agora percebo que não tive verdadeiramente psicoterapia. Agora é diferente.
Não consegui. Não deu mais. Tive de juntar dinheiro para poder financiar o meu tratamento. Que assim seja. Sozinho já não conseguia encontrar solução para onde estava.
Aqui e ali houve alguns pensamentos suicidas. Houve. Não minto. É sempre um caminho mais fácil.
E depois houve uma procura efetiva, uma luta para encontrar um anjo da guarda sob a forma de terapeuta. Não foi a primeira nem a segunda que encontrei. Foi a terceira e talvez o tenha sido por uma razão, percebo agora.
Ainda fui a tempo e acho que isso me salvou, salvou a minha participação na maratona e terá salvo o meu futuro.
Estou a ser ajudado. Estou feliz por isso.
Está a doer, mas dói e depois melhora muito.
Nunca sintam que são demasiado fortes para superar tudo sozinhos. Precisamos de afeto, precisamos de carinho. Precisamos dos outros. Precisamos de ajuda.
Eu precisei e ainda preciso de ajuda. Não há mal em dizer que não se consegue, que já não se é capaz.
Há sempre alguém para cuidar de nós. Só precisamos de pedir. E de querer.
Tenho percebido que a coragem e o medo dormem juntos, são amantes de longa data. Como a alegria e a tristeza. Um precisa do outro, sempre na dose certa.
A minha psicóloga diz-me, por vezes, que o medo "é mais energia para dobrar obstáculos". Em boa hora lhe estou a dar ouvidos.