O trail que me ficou na memória e no corpo
João Silva
Foi este o estado em que cheguei ao fim daquele trail.
Primeira edição do trail de Alcabideque. Corri na distância de 14 km.
Em outubro de 2017, tinha havido um grande incêndio por aquelas bandas. Conclusão: num dia de chuva farta e com as cinzas do dito ainda a pairar por aqueles lados, o "piso" ficou uma verdadeira desgraça. Escorregadio, acidentado, pesado, lamacento.
Logo no início, fomos presenteados com uns belos flashes de relâmpagos e com umas trovoadas igualmente assustadoras e jeitosas.
Fruto de tudo o que já disse, uma vez mais sem óculos.
E ainda houve direito a uma estreia: como não eram muitos os atletas participantes, consegui partir na linha da frente. Nunca faço questão disso, mas ali não enjeitei a possibilidade.
A prova foi técnica, muito durinha, acrescentaria.
A primeira subida parecia um escorrega. Algum tempo depois, uma descida íngreme feita com a ajuda de uma "corda de metal". Como o meu jeito para isso é muito, desci com o meu braço a deslizar pela corda. Só queimou do antebraço até ao pulso. E nem ardeu muito, porque a chuva ajudou.
Na montanha seguinte, decidi fazer a outra descida através de uma nova técnica: ir ao sabor do vento e da lama. Devo dizer que a lama, as cinzas e os troncos em que fui batendo se encarregaram de me fazer chegar à estrada. Obrigadinho.
Para ajudar nesta saga, numa parte rolante, olho para o meu abdómen e não vislumbro o dorsal. Tinha caído. Tive de andar quase meio quilómetro para o encontrar. Remédio santo. Graças a isso e às informações do meu estimado colega Virgílio Neto, comprei um porta-dorsais. Lição aprendida.
No fim, foi o trail que mais me marcou pela positiva. Foi também aquele que mais marcas me deixou no corpo. Ainda hoje falo dele, portanto, só pode ter sido bom...ou traumático.