O rescaldo da Meia-maratona na Feira (com vídeo)
João Silva
Já passaram muitos dias, mas a sensação continua a ser boa.
A 25 de março corri a meia-maratona de Santa Maria da Feira.
Com a prova a mais de 100 km de casa, foi toda uma viagem muito interessante de introspeção e de focalização no que ia lá fazer. Não ia à procura de um recorde pessoal, não ia. Era a primeira prova a sério depois da pubalgia e o objetivo era claro: aproveitar todo o ambiente, todo o espaço, perceber como o corpo estava e testar o isotónico em competição.
Antes do resultado, falo na magnífica sensação de me sentir em casa, fui sempre muito bem tratado. Tive direito à pasta party, o que me facilitou a logística do almoço. Muito boa comida, bem preparada para o contexto de prova.
Depois disso, passeio pelo espaço maravilhoso do Europarque, feito a pensar nas famílias. Com restauração de qualidade, com limpeza espantosa.
Seguiu-se um dos pontos altos do meu dia: conhecer O último fecha a porta. Que bela conversa, parecia que nos conhecíamos há anos. Gostei. E também gostei do facto de ele me ter apresentado o Sr. Falcão, o homem das maratonas já com idade para ser nosso avô. Que luxo! Fiquei a saber muito sobre os campeonatos nacionais de veteranos (sim, dentro de três meses, mudo para o escalão dos veteranos, pois chego aos 35 anos).
Aqui faço uma pausa. O que aconteceu depois foi muito bom, mas deveu-se aos seguintes fatores: à minha gestão mental e corporal dos últimos meses; ao apoio e ao suporte familiar incansável da Diana que se encarregou do Mateus e do planeamento familiar, ao meu fisioterapeuta Rodrigo, ao meu amigo Ricardo Veiga, que me apresentou um isotónico em boa hora e ainda ao meu vizinho Fernando, que me emprestou a sua bicicleta há seis meses, permitindo-me assim diversificar o meu treino e não castigar as pernas, à minha psicóloga Vânia Ribeiro, que me tem ajudado a ver-me com olhos de ver e não com óculos estragados, e aos meus velhos amigos Bruno e Catarina, que me deram comida, banho (não literalmente) e dormida no seu palácio em Aveiro.
Nada do que vivi durante a prova em termos de desempenho faria sentido sem referir isto. Foi aqui que esteve a chave e o meu equilíbrio e há uma ligação direta disto com a forma como me sinto atualmente.
Posso referir ainda a organização, que esteve impecável na decoração do espaço da partida e da chegada, e as pessoas, que, aqui e ali, apareciam e incentivavam. A parte da chegada é uma overdose de apoio (e uma escassez de abastecimentos).
Em termos de beleza, tenho de ser honesto e devo dizer que a prova vale pelos últimos 7 km.
Não ia à procura deste resultado, fui prudente o tempo todo, mas consegui desbloquear aqui algumas energias que tinha escondidas.
Mais do que o orgulho no 73.º lugar em mais de 500 participantes na meia-maratona ou no 11.º lugar no meu escalão, impera o espanto e o enamoramento por mim próprio por ter conseguido um primeiro terço de prova a voar: meti 7 km nos primeiros 30 minutos e com descidas e subidas já ao barulho.
Ia leve, estive leve, fui solto. Aproveitei. Acho que a chave esteve na leveza mental que levei comigo. E naquele xi-coração do meu filho que revivi vezes e vezes sem conta durante a prova.
Numa altura em que me preparo para ponderar a contratação de um treinador para superar o duro segundo semestre que me espera (2 meias-maratonas e 2 maratonas), surgem dúvidas enormes: será que vale mesmo a pena? será que isto que já alcancei não é já prova do elevado patamar onde me pus? será que o que me espera seria diferente com os métodos de um treinador? e será que quero mesmo isso? que preço isso me obrigará a pagar? A reflexão fica para outros momentos.