Nobody Cares...
João Silva
Há uma frase que diz "se eu não gostar de mim, ninguém gostará".
Há medida que vou envelhecendo, vou vendo o quão verdadeiro isso é, embora seja uma pessoa que se odiava e que não se sentia bem na sua pele.
Refiro-me a quê? No fundo, a tudo, mas sobretudo à questão do desporto.
Não peço nem nunca pedi que as pessoas saíssem da sua vida para me perguntarem como estou ou como evoluiu a minha lesão, mas, sobretudo dos familiares diretos, inclusive daqueles de sangue, esperava que mostrassem algum interesse.
O que senti há mais de um ano foi que a minha incapacidade para correr (mas também para andar em condições e sem dores no primeiro mês) era completamente irrelevante. Não tinha nada partido, não tinha nada fraturado. Olhavam para mim e estava tudo igual. Por que haveriam de se preocupar?
Por nada, porque nada mais interessa e porque cada um tem de olhar por si.
Não sou exemplo de nada nem para ninguém, nunca me vi como tal, mas gostava, por vezes, que alguém me mandasse uma SMS a perguntar como estou, porque também o faço àqueles que estimo mesmo.
A lesão foi superada, a vida continuou e cada um na sua. Foi assim, é assim e será assim, mas aquele momento foi um "abre-olhos".
Na hora da verdade, nobody cares. Porque todos têm com que se preocupar e não há tempo para lançar sequer um olhar fingidamente preocupado a quem está ao nosso lado...
P. S.: fiz questão de deixar este texto que escrevi ainda em agosto. Estava a ficar com muitos problemas mentais. Sentia-me só no meio das multidões. A entristecer cada vez mais. Tudo tem uma explicação. Entretanto já a percebi e já sei que tenho quem goste de mim. Sempre tive, mas houve alturas em que não quis ver. Também isso tem explicação. Deixar este texto aqui com esta nota permite-me ver o quão voláteis são as coisas. Ganhar uma perspetiva diferente e um autoconhecimento vasto tem-me feito muito muito bem. Obrigado a quem gosta de mim, hoje sei que são muitos. Hoje sinto-o. Já não é "Nobody Cares", é "everyone matters". Um bem haja a todos.