Memórias (quase) perdidas
João Silva
Esta rubrica nasceu em plena prova Eco Meia Maratona de Coimbra no passado mês de setembro. E porquê? Porque a corrida é uma excelente forma de nos ouvirmos a nós próprios. Particularmente, fico muito criativo quando corro.
E em que consiste? Basicamente, o meu objetivo é falar de detalhes, gerais ou técnicos, que me aconteceram em provas. É diferente da outra rubrica de histórias, porque essa destina-se mais a aventuras e a peripécias. Esta, por outro lado, diz respeito a pormenores mais específicos, pequenas coisas que foram mudando a minha forma de correr.
A primeira aconteceu na meia maratona da Figueira da Foz em 2018 (foto).
Foi a primeira vez em que combinei ritmo com outro corredor e assim consegui (conseguimos) melhorar muito o nosso tempo. Fiz 1h31 e até hoje é o meu recorde pessoal.
Para "irmos na roda de alguém", ou seja, a puxar um pelo outro é preciso encontrar um corredor com um ritmo semelhante. Além de demorar, isso pode mesmo ser impossível em determinadas provas.
Em teoria, já sabia o que era, mas nunca tinha passado à prática...até que naquele dia, em que choveu copiosamente, encontrei um senhor de Oliveira do Bairro.
Nos primeiros 10 km, andei "sozinho", mas, facto curioso, a dada altura vi que ele ia à minha frente com outro corredor. Pareceu-me simpático. A partir do momento em que demos a volta nas Abadias, comecei a endurecer o ritmo e senti que estávamos juntos. Os metros foram passando e começámos a meter conversa, num ritmo alto. Deu para tudo.
Quando demos por nós, estávamos a 03 km da linha de chegada e aí despedimo-nos e acabei por descolar, isto porque senti que tinha mais energia do que o senhor, cujo nome infelizmente já não me lembro.
Foi ali que percebi a importância de encontrar alguém com um ritmo semelhante ao nosso e foi também naquele local e naquele dia que compreendi finalmente por que razão o atletismo não é um desporto tão individual quanto se pensa.