Mais vale só do que (bem) acompanhado? - parte II
João Silva
Esta é a segunda parte de uma "dissertação" que dá pano para mangas.
Sendo que já dei conta do quão importante considero correr acompanhado, embora não o faça por várias razões.
Seja como for, este texto foca-se sobretudo nas vantagens e desvantagens de correr sozinho e acompanhado. Pensei de forma mais ponderada sobre o assunto na sequência da última prova em que participei e de uma conversa com a minha vizinha e colega de equipa.
Vantagens de correr sozinho
- desenvolvimento de estilo próprio
- reforço mental e capacidade de resistência
- conhecimento do corpo
- definição desimpedida de percursos
- definição de tática e estratégia de corrida
- autodependência em vez de dependência do estilo dos outros
- criação de espírito guerreiro e de sofrimento
Desvantagens de correr sozinho
- demasiado solitário
- maior limitação da evolução do atleta
- falta do contexto de competitividade saudável
- inexistência de sentimento de entreajuda
- ausência de capacidade de sofrimento coletivo
- maior risco e maior aventura em alguns percursos
Posto isto, junto igualmente ao "debate" algumas ideias que extraí de um vídeo do grande Eliud Kipchoge, o verdadeiro campeão de maratonas e talvez a derradeira esperança humana nesta altura para quebrar a barreira das 02h00 numa maratona.
Grosso modo, trabalha com uma equipa. Nem sequer é só com um treinador. Em seu redor, tem um conjunto muito bom de atletas e é esse grupo que o ajuda a evoluir. Treinam juntos, estagiam juntos, seguem as orientações de um técnico comum e, inclusivamente, vão juntos para as provas.
Segundo o queniano, "vale mais 10% de cada indivíduo da sua equipa do que 100% dele". Ou seja, embora se trate de uma prova individual, uma maratona requer estratégia e essa passa por ter ao seu lado um conjunto de atletas capazes de espicaçarem e de despoletarem uma evolução no "principal". O ritmo inicial deles é um ritmo alto, é certo, mas em grupo. Para tal, desde logo, cada corredor tem de ser muito dotado para integrar a equipa.
Chegados a um ponto "de rotura", em que cada um deles já atingiu o seu limite, seguem cada um por si.
E esse é o ensinamento maior que retiro de tudo isto: é muito importante ter uma companhia, é isso que vai permitir uma maior evolução do corredor. Contudo, "amigo não empata amigo": cada um tem o seu ritmo e é preciso desenvolver capacidade e estilo próprio para perceber que, a determinada altura, teremos de deixar o colega atrás porque o nosso corpo nos diz que estamos melhor.