Estagnar é (muito) mau, andar para trás é doloroso
João Silva
Olhando para trás, ao fim de quase cinco anos e meio, vejo que foram muitas as vezes em que não consegui fazer o que queria em termos de treinos.
Percebo que estagnei muitas vezes. Se o primeiro ano foi de grandes mudanças, como era suposto, depois passei muito tempo atrás daquilo que já tinha acontecido no passado.
Se, por um lado, é bom saber que chegamos a determinado ponto e que, se estamos mal, é apenas uma fase, por outro, não adianta perseguir aquilo que, a dada altura, se torna muito distante.
O que mais me desilude é ter esta noção de que o excesso de treinos me minou a evolução e que, à exceção de alguns períodos de provas, nunca consegui estar em plena forma durante muitos meses. Até me ter lesionado a sério. Foi o episódio de que precisava para abrir os olhos. Sobretudo, em termos de qualidade de treino e ao nível dos resultados.
A chave para subir a forma é combinar os treinos de elevada intensidade com períodos de descanso. Sei que falhei nesse capítulo. Durante muito tempo, como não "sabia" o conceito de abrandar, o corpo não deixou fazer mais sessões de treinos de velocidade pura. Outra das causas estúpidas para isso foi acreditar que, para poder comer (coisas "normais" no meu estilo de vida atual), tinha de treinar sempre e sem olhar para trás. Tudo isso me levou a um ponto em que não consegui evoluir.
Agora tornei-me constante, tenho sido paciente e os resultados dos treinos estão a materializar-se em boas sensações do corpo e em resultados práticos, mas dói perceber que fui muito burro (por culpa própria) durante tanto tempo. Sobretudo, custa saber que se tem as ferramentas certas e que bastava ter calma e método.
Não gosto de ser conhecido como o tolinho que corre muito. Porque sim, corro muitos quilómetros, mas gostava que esta quantidade se transformasse em algo palpável. Não falo de pódios, embora pense neles, ainda assim, sinto que sei qual o caminho teórico a percorrer para chegar lá e que acabo a andar para trás por "cegueira".
No entanto, os últimos cinco meses, no balanço do meu regresso da lesão, provaram que afinal aprendemos com os erros.
Pior do que estagnar é ficar pior do que se estava. Isso aconteceu-me no ano passado depois de ter corrido os 50 km pela primeira vez.
Não foi a distância a provocar isso, foi a falta de descanso e a incapacidade para mudar métodos.
Aceitei o que me aconteceu e todas as dores reais que tive e, na verdade, nem posso dizer que tenha sido tudo mau, porque consegui mudar a minha passada para o pé direito (passei a conseguir marcar ritmo com os dois) e consegui mudar um pouco as cargas do fim de semana e apostar no reforço muscular. Só que já foi muito tarde naquela altura. O corpo já estava muito massacrado e nunca mais consegui ter regularidade num ritmo que me permitisse fazer 18 km em 1h30 (era o normal em períodos bons) sem me deixar quase k.o. nos dias seguintes.
Isso doeu tanto. Representou um enorme fracasso e foi provocado por mim. Diria que é um pouco o resumo da minha vida.
Digerir tudo isto não foi fácil... mas o que não nos mata, torna-nos mais fortes... foi o caso. Pelo menos, por agora.