Diz quem sabe, ouve quem gosta
João Silva
Como já aqui o escrevi, sou um seguidor confesso e inveterado do podcast francês Dans la tête d'un coureur.
Não só pela simplicidade e pela despretensão com que expõem os conteúdos, mas também por um deles ser/ter sido um treinador da equipa nacional francesa de atletismo. Portanto, sabem na perfeição do que falam. Adicionalmente e como grandes vantagens, estão nos principais eventos mundiais, abordam outras vertentes do atletismo como trail e triatlo e contam com os vereditos de verdadeiras estrelas do atletismo francês.
Foi, pois, num destes episódios que fiquei a saber mais aspetos interessantes e importantes.
Desde logo, um plano de treinos de um atleta deve ser composto em 80% por treino de endurance. Isto é: treino/corrida de sessões longas, trabalho de resistência, capaz de garantir que o atleta aguenta a carga. É o chamado "meter quilómetros nas pernas" e é de extrema importância para trabalhar o corpo para grandes distâncias.
De seguida, 10% devem ser dedicados a trabalhos de velocidade. É neste ponto que entram os treinos de ritmos, os intercalados, os sprints puros. Este conjunto vai garantir explosividade, capacidade de alternar ritmos e cadências e ainda permite gerar energia nos músculos sem ação do oxigénio, pois são exercícios anaeróbios. Pela sua agrassividade, é importante não abusar, mas também não podem ser descurados.
Por fim, os restantes 10% incidem sobre um dos pontos mais importantes, o descanso, elemento que permite a assimilação da carga e a tradução desse processo numa evolução.
A acrescentar a todo este fascínio, o treinador em causa expõe ainda um facto curioso, sendo posteriormente apoiado por uma fantástica triatleta francesa que esteve presente nos Jogos Olímpicos do Rio: para correr, por exemplo, a uma média de 12 km/h, um atleta deve centrar a maioria dos seus treinos a 11 ou mesmo a 10 km/h.
O exemplo serve na perfeição o meu casa, já que o valor atual anda nessa ordem, sendo que eu faço mal o seguinte: procuro treinar o mais possível a 12km/h em vez de me manter num ritmo mais baixo para depois ter alguma "liberdade" para subir em provas, por exemplo.
Esta ideia reforça claramente o ponto exposto no inicio: mais do que a rapidez constante, um atleta deve privilegiar a resistência e a "durabilidade" das suas energias, pois só isso permitirá chegar a patamares superiores de forma mais sustentada.