A oitava maratona com direito a melhor tempo em treino
João Silva
Fiz de propósito para antecipar o texto de ontem. Tinha-o agendado para mais tarde, mas perderia a relevância. Porquê? Porque fui incoerente entre aquilo que disse e o que fiz.
Rapidamente: disse que não tinha interesse em provas virtuais. E fiz uma maratona no passado domingo inserida no evento maratona virtual do Porto. Mantenho a minha ideia em relação a esse tipo de provas. Contudo, aqui é fácil de explicar porque fui contra mim: há mais de três meses que tinha decidido que ia fazer duas maratonas até aí final do ano. Fiz a primeira no início de setembro e já tinha agendado a segunda para novembro, para a terceira semana.
Se tudo estivesse normal, teria ido ao Porto fazer a minha quarta maratona oficial. Quando soube da hipótese de fazer uma maratona virtual com direito a medalha, aproveitei, contribuindo assim também um pouco para ajudar os organizadores.
Indo agora à prova em si, foi um sonho, apesar do muito vento, da chuva constante e da dureza. Fiz os 42,500 km todos dentro do concelho de Condeixa e posso assegurar que mantive distanciamento social (já que às 05h30 da manhã não há ninguém na rua e estava a correr sozinho).
Esta foi a oitava vez que corri uma maratona (4 oficiais e 4 oficiosas em treinos) e foi uma das melhores provas de que o treino é 90% do resultado final.
Numa preparação que esbocei para 5 semanas, recuperei a estabilidade na minha passada, consegui ganhar cadência e passar para ritmos mais elevados durante mais tempo. Tudo isto graças aos treinos de séries, aos fartleks, aos treinos longos e de subidas.
O início da "prova" foi um pouco duro, pois demora sempre até encontrarmos um ritmo que não seja exageradamente elevado para não quebrarmos logo.
Perto da 1h30 já consegui ter a noção do que poderia acontecer, ritmo forte mas ainda confortável e já na ordem dos 5 minutos por quilómetro.
Entre os 20 e os 24 km senti que havia algum cansaço mas, curiosamente, consegui aumentar o ritmo. Nesta fase, já tinha feito o meu abastecimento de sólidos (banana) e notei melhorias no desempenho.
A partir dos 26 km, foi subir como gosto: pegar bem na subida de início e ganhar cadência, sempre sem prejudicar a postura. E porque falo da postura? Porque a partir dos 30 km, o cansaço toma conta de nós e a nossa tendência é dobrar costas, baixar a cabeça, não subir tanto os joelhos. Tudo isto prejudica.
Aproveitei muito bem a fase de descida, com a postura correta e sem tornar a passada pesada, e aqui esteve um dos grandes trunfos para ter chegado bem fisicamente aos 37 km. A partir daqui, manda exclusivamente a cabeça e eu sabia que estava tão próximo de conseguir um bom tempo que acabei por canalizar isso a meu favor.
Cheguei ao fim da maratona com o melhor tempo em treinos (segundo melhor a nível global), novamente abaixo das 03h30 e ainda com alguma frescura física.
Depois de um pequeno ciclo de recuperação, vou iniciar uma nova preparação com mais um plano intenso. A grande felicidade deste resultado está em saber que normalmente tiro entre 10 e 20 minutos ao tempo de treino quando estou em competição. O sonho está mais próximo de se concretizar.
Faço ainda uma boa referência ao facto de ter vestido a camisola da Venda da Luísa pela primeira vez este ano (que bem me soube) e pelo facto de ter encontrado o José Carlos e a Sara (colegas de equipa pelo caminho. Sim, estes dois "malucos" andavam a fazer o mesmo que eu. Parece uma espécie de esquadrão das maratonas.