A criança ainda brinca
João Silva
Longe vai a ideia de que um pai (mais do que as mães neste ponto) só tem de assegurar a sobrevivência da sua família. Têm os dois, ponto final.
Ser pai (e mãe também) implica educar e dar amor. E as duas "funções" são inteiramente compatíveis.
Uma das formas de amor é brincar com eles, dar a nossa presença. Sinto isso tantas vezes com o Mateus. Ocupo-me dele, mas, quando tenho de entregar algum projeto com maior brevidade, ele não descansa enquanto não vou ter com ele. Quer brincar. E se comigo é assim, imaginem como é quando é a mãe a ter projetos e a não poder estar mais diretamente!
Sim, eu brinco. Eu faço figuras tontas. Eu sou pai. Coloco-me sempre ao nível dele (eu e a mãe). É um igual a nós, só que mais pequenino.
Acho que ele adora brincar comigo. Eu sei que há poucas coisas na vida que me deixam tão feliz.
Há uns tempos, o Pedro Ribeiro da Comercial dizia que adorava sentir-se criança quando brincava com os filhos.
É, de facto, uma bênção! Não trocava uma brincadeira com o meu filho pela melhor maratona do mundo (não é necessário chegar a tanto, é possível conciliar, mas é para se perceber que adoro brincar com ele).
E quando brincamos, eu saio da pele de adulto e sou feliz na minha forma mais pura. Não escondo qualquer desejo de voltar à minha infância. Teve liberdade mas também teve muitas dores que não provoquei e, mesmo assim, teimaram em aparecer.
Quando brinco com o Mateus, deixo brincar quem está dentro de mim.
E mesmo quando a brincadeira acaba, acabo o dia com esperança de poder ter tempo para voltar a brincar com ele no dia seguinte.
Ser pai não é brincar a toda a hora, mas é mostrar ao nosso filho que também nós temos uma criança que precisa de ser "alimentada".
Não sou um amigo. Sou amigo. É diferente. Para mim,