A arte ou o problema de querer prever o imprevisível
João Silva
Querer antecipar o futuro é um traço de personalidade que não me larga há anos.
Nem é suposto, é algo de muito próprio e funciona como o meu mecanismo de defesa perante situações complicadas de mudança.
Se sei que vou enfrentar uma situação dura que implica uma mudança, preparo-me convenientemente para ela. Não sou assim apenas no desporto. Sou com tudo. Por exemplo, pouco tempo depois de tirar a carta, procurei ambientes de aperto para saber como reagir em situações "reais".
Portanto, o meu propósito com as antecipações reside sempre em criar padrões de comportamento que me permitam manter o equilíbrio, que não me façam sentir deslocado.
No entanto, a vida não seria vida se nos permitisse prever e antecipar tudo. Simplesmente, é necessário saber aceitar isso e reagir apenas com base nas informações recolhidas na hora. Tudo isso é muito bonito, exceto quando representa uma tarefa monstruosa para a nossa personalidade.
Esse é um belo desafio que tenho procurado dominar. No atletismo, antecipar significa estar preparado para as reações do corpo e, tenho a certeza, nunca teria corrido uma maratona, caso não tivesse percorrido primeiro os 42 km em treino, porque preciso de ter ferramentas modelo para usar em situações semelhantes. Não gosto de deixar nada ao acaso e, também para antecipar, preparo treinos com envolvências próximas das das provas. Há um fator importante, no entanto, que não consigo recriar com antecedência: a forma anímica e a minha reação momentânea.
Mas tudo é aprendizagem e não saber como reagir também pode ser um belo padrão de reação e de comportamento em determinadas circunstâncias.
Vocês reveem-se de alguma forma neste padrão de comportamento?