Vantagens e desvantagens de um estradista num trail
João Silva
Finalmente escrevo este texto. Já mo tinham pedido há imenso tempo, não foi, Ricardo Veiga?
No entanto, infelizmente, não houve tempo mais cedo. A vida meteu-se pelo caminho e esta reflexão esteve muito tempo na gaveta.
Ora bem, numa primeira análise, um corredor de estrada, um estradista nas minhas palavras, está muito deslocado numa prova de trail. Desde logo, os desníveis são muito diferentes, a proprioceção, ou seja, a capacidade para o corpo se automovimentar sem colidir com obstáculos, não está devidamente treinada e a mecânica da corrida é diferente.
Forçados pelo trajeto, os movimentos de um estradista, sobretudo, ao nível do joelho, são mais intensos. Se a força é importante em estrada, em serra é-o a dobrar. Não se exige "apenas" um movimento de pernas, o corpo tem de funcionar como um bloco bastante flexível. A rapidez de reflexos também é um requisito mínimo obrigatório.
Onde me parece que um estradista tira partido de um trail é quando encontra um trajeto mais rolante, com menos labirintos técnicos, porque aí sobressaem as suas capacidades de resistência (quando se tem a particularidade de se ser corredor de meio fundo ou de fundo). Um corredor de estrada vai com mais dinâmica, está mais habituado à "falta de convívio" nas suas provas e foca-se mais numa chegada à meta.
Apesar destas diferenças claras, diria que há benefícios em cruzar modalidades, principalmente, se for o de estrada a participar em trails, porque ganha mais noção "inconsciente" das características do piso onde corre, vai ganhando proprioceção e consegue trabalhar uma passada mais alta, com os joelhos mais elevados e aí está a ganhar para as suas provas em estrada.