Com a chegada dos filhos, há um conjunto de mudanças que abraçam a nossa vida.
As realidades mudam em relação ao adulto que éramos antes da chegada deles.
Tão clichê quanto verdade.
Uma das mudanças está no tipo de contactos sociais e de "amizades".
Primeiro, somos uma espécie de ímanes e de intermediários entre os pequenotes, até porque os nossos filhotes seguem aquilo que fazemos.
Tenho experenciado isso com o Mateus, que tinha alguma timidez quando era abordado por miúdos ou graúdos. Essa timidez prevalece, mas, na presença de miúdos, já não é vincada, ele junta-se e brinca. Interage. No passado verão, brincou com muitos miúdos e, a dada altura, já tinha uma rotina de "grupo" com quem se relacionava. Naturalmente, como agora sai menos no outono/inverno, isso acaba por resfriar um pouco as coisas.
Nesses casos, nunca o forçámos a nada. Porém, procuramos manter abertura ao diálogo com os outros. Aos poucos, o Mateus sente aquilo como algo tranquilo e começa a abrir-se.
Dá-me genuíno prazer ouvir as conversas dos pequenotes e dar-lhes atenção. E não é só pelo meu filho, é porque é ótimo receber as informações e visões de uma criança. (Quando se está muito neste meio, a dada altura, há o risco de o adulto já não saber quem é, mas isso já são contas de outro rosário e cujos efeitos secundários tenho tentado resolver com acompanhamento.)
Há muito tempo, encontrámos um menino, o Tomás, que falava, falava, falava, brincava e tinha um carro Hotwheels que tinha asas, segundo ele. O Mateus começou por ter algum receio, mas, com o tempo, senti que ele ficou mais comunicativo perante o outro menino.
Nesse mesmo dia à tarde, o Mateus viu o nosso vizinho, também ele chamado Tomás, a jogar à bola no jardim. Não meteu conversa, mas sorriu genuinamente quando viu o menino. Aquele sorriso era de felicidade, de quem queria ir para aquele espaço. O Tomás acenou-lhe e o Mateus sorriu tanto. Meses mais tarde, estavam a brincar juntos nesse mesmo espaço e o Tomás e o seu irmão Gabriel foram de uma enorme generosidade por acolherem tão bem o meu filho. Este verão, por exemplo, foi uma grande descoberta. Passaram-se assim belos dias de piscina. Além disso, quando o veem na rua, vão sempre à janela para falarem com ele.
E depois do Tomás e do Gabriel veio a Mariana, mais tarde o Rodrigo, tendo-se seguido as duas Leonores, o Pedro, o Martim pequeno, o Martim grande, o Eduardo e a irmã, a Olívia, a Madalena e muitos outros. Com os miúdos, vieram os graúdos "por detrás deles" e isso trouxe belas conversas, belas partilhas de angústias e vontades, formas diferentes de educar.
Ele vai ganhando novos amigos, mas nós, pais, também vamos tendo uma realidade nova de amigos, diferentes, com outras formas de pensar, mas importantes pelas "balizas" educativas que nos vão trazendo.