Nutriscore: uma solução com falhas
João Silva
O assunto mete educação alimentar ao barulho.
Sejam desportistas ou não, o importante é que tenham consciência do que comem e de como comem.
Numa ótica de facilitar o conhecimento alimentar, a associação nacional francesa decidiu criar em 2017 um sistema de códigos baseado em cores (verde a vermelho) e em letras (A a E). Entretanto, já há muitas marcas a identificar os seus produtos nesse sistema. Em Portugal, a Auchan (e também o Continente) talvez seja a cadeia com maior peso a esse nível.
Basicamente, tudo isto visa ajudar o consumidor. O método de cálculo do algoritmo dos produtos é basico: por cada 100 g de produto alimentar (incluindo bebidas) subtraem-se pontos negativos como energia (calorias), gorduras saturadas, açúcares e afins a pontos positivos como quantidade de frutas, legumes, proteínas ou fibras. O resultado é transformado numa letra.
Tudo muito útil e bonito, mas desaconselha-se a comparação entre alimentos diferentes.
E nem é difícil perceber porquê. Só assim se pode compreender que um cacau puro, que tem algumas calorias por ser um alimento com muitas gorduras BOAS, seja C (para a Auchan) e o Chocapic seja um A (para a Nestlé). Ou que amêndoas puras (alimento rico em gorduras saudáveis) seja um C.
Quando não se está muito dentro do sistema de cálculo, é imediata a tendência para deixar de comprar cacau ou amêndoas por causa do seu resultado. E isso é errado, porque estes produtos são muito melhores para a saúde do que o Chocapic e o seu A. As amêndoas têm mais calorias por causa das gorduras (maioritariamente insaturadas) mas são muito benéficas para a cognição e para o desempenho físico.
Outra incongruência, por exemplo, na Auchan é a classificação da farinha de trigo: sem fermento é A, com fermento é C. A diferença de calorias até prejudica o produto sem fermento e os dois têm o mesmo tipo de ingredientes (à exceção do fermento).
Resumindo: a ideia é fabulosa e muito útil, mas a falta de clareza e as nuances são prejudiciais para alguns produtos.