Crónica de uma queda
João Silva
Cair é das piores coisas que me podem acontecer como corredor.
Mágoa-me fisicamente, mas o pior são as mazelas psicológicas.
Há muitas razões para cair durante um treino: falta de luz, má postura, tropeções.
Sei que muitas das minhas quedas se devem a momentos de má postura.
Correr com óculos era uma condição fundamental para mim, que não vejo bem sem eles, mas agora tive de aprender a correr sem, pois uma queda com eles era sempre motivo de aflição para mim. Não tanto por os poder partir, o que também me incomoda, mas porque tenho medo de furar uma vista. Talvez por isso tenha procurado aprender a cair de lado.
Infelizmente, já levo algum treino disso.
Passei também a levar o telemóvel na mala em vez de no braço ou na mão para evitar "chatices".
Porém, apesar de o impacto doer imenso e de poder causar feridas, correr logo depois de uma queda é lutar contra uma ideia e contra o medo de voltar a cair. Por um lado, isso obriga-nos a ter mais atenção, mas, por outro, tolhe-nos os movimentos, deixa-nos perros e com receio. Isto é o que dói mais.
Ter espetadores também pode ser doloroso, mas não é o mais importante.