Hoje trago-vos uma entrevista especial. Trata-se da Isabel e é minha colega de equipa. No passado, já treinei duas vezes com ela, mas foi a sua simpatia que foi perdurando.
Conheci a Isabel como uma atleta no início, com alguns medos normais e com dúvidas em relação à sua capacidade.
O tempo passou e a mulher virou "bicho do mato" e não há pai para ela. Corre grandes distâncias, procura fazer trails diferentes e desafiantes e já se aventurou nas meias maratonas.
Acho que, por vezes, nem se apercebe, mas tem uma garra.
Ah, e muito importante: é diabética. Traz-nos aqui o lado mais duro de quem tem este problema e corre e se adapta às situações.
Vão adorar conhecê-la.
Fiquem, pois, com a Isabel Madeira'
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EPIC Trail Run Azores em 2019
Nome
Isabel Madeira
Idade
51 anos
Equipa
ARCD Venda da Luísa
Praticante de atletismo desde
Setembro de 2018
Modalidade de atletismo preferida
Adoro Trail
Distância preferida
Entre 20 a 35 Km
Na atual equipa desde
Dezembro de 2018
Volume de treinos por semana:
3 (2 em estrada e 1 na serra, só corrida)
Importância dos treinos
Os treinos são de facto muito importantes na prática de qualquer atividade desportiva, e no trail running não é diferente. O treino adequado pode evitar algumas lesões e melhorar o desempenho do atleta. Como exemplo da diminuição ou quase ausência de treinos, devido à proibição de circulação entre concelhos, não foi possível treinar na serra dorante quase 5 meses, e, como resultado desta privação, deparei-me com muitas dificuldades durante a minha primeira prova deste ano, nomeadamente, com muitas cãibras e dificuldades na respiração. Acabei por desistir da prova e, mesmo assim, ganhei um grande empeno.
Tem ou não treinador
Não tenho treinador.
Diferenças existentes entre o atletismo passado e o atual
O que me tenho apercebido é que o atletismo está na moda e a pandemia do Covid 19 veio contribuir para o aumento de pessoas a correr pelas cidades.
Histórias insólitas, curiosas ou inéditas
A minha primeira prova em competição foi uma prova de 10 km em estrada. A partir dos 7 km comecei a sentir uma fraqueza enorme, tonturas, fadiga muscular, com a visão turva e quase sem forças para terminar a prova. Quando cheguei à meta, senti-me quase a desmaiar e deitei-me imediatamente no chão. De seguida, no abastecimento, comecei a comer e não conseguia parar de ingerir sólidos. Como sou diabética, só mais tarde é que me apercebi que os níveis de açucar no sangue desceram imenso e, provavelmente, fiz uma hipoglicémia. Com esta experiência, aprendi que a hidratação e a nutrição são fundamentais no desempenho da corrida.
Aventura Marcante
A prova que mais me marcou pela positiva foi o EPIC Trail Run Azores, em dezembro de 2019, com cenários fantásticos, belíssimas paisagens e percursos verdejantes.
Participação em prova mais longa
Em fevereiro de 2020, Trail de Conímbriga Terras de Sicó – 57 Km. Realizei a prova com um colega de equipa que me deu um grande apoio, caso contrário, julgo que não conseguiria terminar a prova.
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Penacova Trail do Centro – 2020
Objetivos pessoais futuros
O meu objetivo é continuar a correr em trilhos, zonas montanhosas durante mais alguns anos, e, para isso, decidi incluir treinos em ginásio para a realização do reforço muscular. Pretendo continuar a correr por três motivos: primeiro, quando corro na serra estou a usufruir das paisagens maravilhosas que a natureza nos proporciona, depois por questões de saúde e, por último, pelo desafio, uma vez que procuro sempre superar as minhas dificuldades, que são algumas. Em 2022, gostava de fazer uma maratona, a do Porto.
Como vê o atletismo daqui a 5 anos
Como o atletismo está em progressão, espero que haja mais mulheres a correr, sejam elas jovens ou menos jovens.
Porque existem tão poucas mulheres a fazer atletismo e porque há tão poucas em provas de grandes distâncias.
De facto ainda se verifica uma discrepância entre géneros na prática de atletismo, mas julgo que essa diferença tem vindo a diminuir, principalmente, devido à mudança de mentalidades que está a permitir que as mulheres se expressem e se sintam mais seguras a defender os seus direitos. Pois, cada vez mais, se vê mulheres a participar em provas, sejam elas competitivas ou de caráter lúdico, social e solidário. Na minha opinião, a grande maioria das mulheres dá primazia à vertente lúdica e tende a ver o desporto como forma de se manter ativa e em forma no seu dia-a-dia, pelo que as provas de curta e média distância satisfazem os seus objetivos.
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Piódão Trail Running – 2020
Existem diferenças de tratamento em relação aos homens.
Sim, sobretudo quando se trata de atribuição de prémios monetários, que normalmente são criados para o sexo masculino.
O que mudou com a pandemia?
Relativamente à minha condição física, senti alguma quebra em virtude da diminuição de treinos na serra, na sequência da proibição de circulação entre concelhos que ocorreu durante 13 fins de semana consecutivos.
No que diz respeito às provas, mudou muita coisa, principalmente, a organização dos eventos, a implementação de todas as regras de segurança antes, durante e após a prova, as partidas que passaram a ser faseadas, por isso, o momento da partida, deixou de ser aquele momento em que sentimos um nervosismo ou “um nó no estômago”.
De uma forma geral, acho que a pandemia de Covid 19 fez com que muitas pessoas sentissem vontade de ir para a rua, quer para caminhar, correr ou andar de bicicleta. As pessoas começaram a usufruir dos parques, jardins e ciclovias da cidade, porque passaram a valorizar as pequenas coisas da vida assim como a natureza.
Já participou em provas reais desde a pandemia?
Sim, em outubro de 2020, participei em três provas: Piódão Trail Running, Penacova Trail do Centro (prova para o campeonato nacional de trail que só foi possível participar porque estava apurada no ranking do escalão F50 na ATRP) e Trail de Fátima.
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Trail de Fátima – 2020
Durante o corrente ano já participei em 4 provas. A minha primeira prova foi em abril, na Batalha, designada por “Os Trilhos do Pastor”, prova também para o campeonato nacional de trail, a qual não terminei devido a ter tido demasiadas cãibras. Participei ainda nas seguintes provas: Trilhos Luso Bussaco, na qual fiz um entorse no tornozelo, que me obrigou a uma paragem de 3 semanas; Trail de Conímbriga Terras de Sicó e no trail Oh! Meu Deus Ultra Trail Serra da Estrela.
O que vai mudar em termos de provas no futuro
Na minha opinião, o que poderá mudar tem sobretudo a ver com a organização dos eventos, com a manutenção das regras de segurança resultantes da pandemia. Pois, acho que existem regras que vieram para ficar.