Era uma vez o gelo
João Silva
Agora que ele (o gelo) já tem guia de marcha para desaparecer por uns tempos, bem que podemos desancar um pouco do dito.
Nos anos anteriores, já corria de manhã bem cedinho e, claro, sempre senti a presença do frio e do gelo no inverno.
Estes últimos meses dessa estação entram para uma categoria especial, já que passei a treinar a partir das 05h00 e das 05h30 da manhã.
Os níveis de gelo e de frio são gritantes e afetam imenso a nossa capacidade de resposta.
Nos outros anos, sempre associei algum défice de desempenho no inverno a algum peso a mais.
Na verdade, isso sempre foi mais um problema da minha cabeça do que real, mesmo quando quem lida comigo de muito perto me dizia para não stressar.
Agora, ao fim de mais de quatro anos, percebo que o meu desempenho diminuiu drasticamente nesta altura por causa da incapacidade natural do corpo para fazer ao frio.
Num dia de gelo, o corpo entra em modo de vasoconstrição, ou seja, não leva tanto sangue às extremidades, logo, não há oxigénio suficiente para esses músculos. Ao mesmo tempo, a corrida é uma atividade vasodilatadora, ou seja, obriga o corpo a alargar os vasos para que o sangue chegue à periferia e aos respetivos músculos.
São, portanto, duas ações que fazem o corpo entrar em luta interna, levando à perda de desempenho.
Quando penso na quebra de forma de janeiro e ao fraco desempenho em sessões de séries, só posso aceitar que o corpo não deu mais porque não conseguia.
Perante isso, até acabei por aceitar bem o que estava a acontecer. Nunca deixei de acreditar que a boa forma ia voltar. Nem mesmo após treinos em que só fazia 33 km, quando habitualmente chegava aos 36 km no mesmo tempo. Nem quando passei a fazer 400 m em 2 minutos em vez dos normais 1,36' ou 1,40'. Não foi fácil, mas como percebi o que se estava a passar, consegui aceitar melhor.