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O que não mata, engorda e transforma-te num maratonista

Em 2016 era obeso, hoje sou maratonista (6 oficiais e quase 20 meias-maratonas). A viagem segue agora com muita dedicação, meditação, foco e crença na partilha das histórias e do conhecimeto na corrida.

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30
Set19

Toda uma nova forma de passear cães


João Silva

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Por agora, esta história marca o fim desta trilogia referente insólitos nas corridas.

O episódio já aconteceu há imenso tempo, talvez perto de um ano, mas só me voltei a lembrar do mesmo há umas semanas, em conversa com a esposa.

Ora bem, isto aconteceu na terra dela, Bajouca.

Certa manhã após a passagem de ano, fui treinar. A dada altura, perto de Carnide, vejo um cão a caminhar...ao lado de um carro, cujo condutor fazia andar o veículo a par e passo com o cão.

Olhou para mim (o senhor), disse-me que estava a passear o cão e lá seguiu...sempre num ritmo lento, qual acompanhante do animal. Já tinha visto muitas coisas, mão não um cão a ser passeado com o dono dentro de um carro em andamento.

E desse lado, há histórias recambolescas?

29
Set19

A rapariga só queria correr um pouco


João Silva

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Nota prévia: a Diana tem fobia de cães. Não, não é simples medo, não é algo que passe ou mesmo giro, como algumas pessoas verbalizam. É algo que a paralisa e bloqueia. 

Ao longo dos anos, aprendi a lidar com isso e a servir-lhe de guardar em situações de aperto. As coisas até já estão menos más para a Diana do que já foram no passado.

Na categoria de insólitos na corrida, há umas semanas fomos correr um pouco por volta das 21h30. Já tinha feito o meu treino de manhã, mas não perco uma oportunidade para estar presente quando a Diana pratica desporto, pelo que aceitei o desafio.

Estávamos todos contentes perto do terminal, que é uma zona mais recatada, e a Diana diz-me "vou correr mais um pouco". Começa a correr e nem 10 segundos depois só ouvimos uma "esfregona" de quatro patas a ladrar e a correr na nossa direção.

Assustada, a Diana passou logo para trás de mim, tentando explicar à dona da cadela, que se encontrava num carro com a porta aberta, que tinha fobia. Eu acabei a servir de escudo humano e tentei enxotar o animal. A dona só pedia calma, mas garanto que estava mesmo pronto a dar-lhe uma sandes de biqueiro, caso me atacasse. Adoro animais, sobretudo, cães, mas irrita-me que me digam "ele não faz mal", "não morde", quando eles estão claramente num ponto em que me vão arrancar uma perna.

Sabem aquele orgulho com que os pais ficam em situações semelhantes e que acabam com os filhos a dizer "foste muito forte, pai"? Senti-me assim...mas também foi porque o canídeo não era um pastor alemão.

28
Set19

Gabarolice exibicionista


João Silva

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Como já disse no passado, também faço tenções de aproveitar este espaço para vos dar a conhecer algumas histórias insólitas com que me vou deparando nesta "cruzada" pelas estradas do meu concelho.

No passado dia 03 de agosto, estava estouradinho a terminar o meu treino de 38 km quando, já em Condeixa, avisto um senhor, aparentemente, meu vizinho, na palheta com outra pessoa. 

Eu não estava para conversas, a energia já era tão escassa que precisava de a guardar para terminar as 03h30 de treino. Assim que passei pelo senhor, acenei e este, talvez tocado por também ser corredor amador e por querer mostrar serviço, começou a correr. Precisamente naquele momento. Como quem diz, também corro, sou igual.

Achei curiosa e simultaneamente estranha aquela atitude. Precisamente por estar a cheirar a "gabarolice", quando virei à direita, não resisti a olhar para o local onde ele estava. E lá ia ele...a caminhar. 

Resumindo: no fundo, quis foi mostrar serviço. Mal passei, retomou o que estava a fazer.

Termino da seguinte forma: à mulher de César não basta parecer, tem de ser.

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27
Set19

Mentoring my better half


João Silva

Não sou treinador. Para ser sincero, ela é que é a minha treinadora, como costumo dizer, não na especificidade do treino mas na capacidade de me ouvir e de me perceber. As minhas vitórias (não necessariamente no desporto) são as dela e vice-versa. 

Bem sei que não tem a mesma vontade (obstinação) que eu para fazer exercício, mas louvo-lhe as constantes tentativas que faz para praticar mais desporto e para cuidar da sua saúde.

Para mim, é um enorme prazer poder estar ao lado dela quando quer ir praticar desporto.

Gosta de correr, embora não seja adepta de grandes distâncias como o marido, e nem "sabe" correr devagar. Durante anos, viu-se impedida de praticar desporto devido a um problema de saúde, até que as coisas mudaram e uma naturopata lhe resolveu o problema de condromalácia na rótula do joelho esquerdo.

Não corre nem pedala todas as semanas, mas em julho e agosto voltou a pedir para irmos correr. Fazemos como é suposto: corremos e caminhamos. No fim de contas, não são muitos os quilómetros percorridos, mas fico orgulhoso por ver que ela quer, que me pergunta se a postura é a mais correta ou se estar a respirar bem e com uma passada boa.

Tentar é tão ou mais importante do que conseguir e valorizo muito mais quem tenta do que quem consegue logo, porque as muitas tentativas são a prova de que há vontade para fazer alguma coisa.

Se há vontade, mesmo que diminuta, tem de haver alguém capaz de pegar no pouco e de o transformar no muito. Não exijo da minha esposa uma dedicação ao treino igual à minha. Aliás, no geral, nem lhe dou conselhos para que pratique mais desporto, pois já sei que isso pode (e vai) resultar em perda de ânimo. Fico, isso sim, muito feliz por saber que sou para ela o pilar que a "pôs" a correr ao fim de tantos anos e por saber que a minha paixão por este desporto a contagia ao ponto de a fazer querer. Nada paga isso.

Ela é, sem dúvida, a minha melhor metade e tenho a felicidade de poder funcionar como uma espécie de "mentor" para ela.

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26
Set19

Parar? Só se for no verão, mas agora já não


João Silva

Mais um verão que foi embora. Agora estamos a começar a abraçar o outono. Quente ou frio logo se verá, não me atrevo a fazer previsões.

É certo que não escrevi sobre isso na devida altura, talvez para não correr o risco de ser encorajado a parar.

Ainda em julho, a Miriam escreveu no seu blogue um texto muito bom e exaustivo sobre a necessidade de fazer "resets" ao corpo de tempos a tempos. Um testemunho impressionante por me ter passado a ideia de que me estava a ver ao espelho e por ter sentido que havia alguém numa posição semelhante à minha. O texto pode ser encontrado aqui. Vão lá que vale a pena.

Contudo, o meu texto não vai no sentido do dela, ou seja, não é uma exposição sobre a necessidade de parar e de abrandar, é antes uma forma de explicar por que motivo é comum os corredores pararem durante a equipa estival ou, pelo menos, durante uma parte da mesma.

Começa logo pela questão das temperaturas elevadas e da dificuldade de hidratação. Pode correr mesmo muito mal, se uma pessoa não andar prevenida e não souber ao que vai. Ingerir muita água é crucial, tal como fazer-se acompanhar de isotónicos reais e comprovadamente eficazes para reposição dos eletrólitos e afins.

Contudo, apesar de o calor ser de facto um problema, existe uma razão relativa ao corpo e outra inventada por mim com base na minha experiência.

Nesse sentido, a pausa no verão serve o propósito de fazer o corpo desligar em absoluto, de limpar o ciclo para depois dar início a outro. O organismo não começa propriamente do zero, porque existe memória muscular e sensorial, mas desliga e regenera nas devidas condições, eliminando também o eventual aparecimento de sinais de sobrecarga física ou mental (irritabilidade, ansiedade, falta de vontade, etc.). 

Apesar de nunca parar, percebo a validade e a pertinência do argumento. Como tenho algum receio de uma "recaída" em relação ao meu passado, opto por continuar. Dito de outra forma, mais correta, não páro porque me dá um enorme prazer correr e porque, ao contrário do que seria de esperar, é nessa fase que subo de forma. Consigo treinar muito e bem, sempre com disciplina. Portanto, não é uma "obrigação".

A outra razão para a paragem estival reside no lado canino. São tantos os cães abandonados nessa altura (pelo menos, por estes lados) que acaba por ser mais viável estar longe deles do que chamar a autoridades. É uma parvoíce, reconheço, mas é um "fenómeno" que me irrita de morte. Não se pode estar descansado por causa da irresponsbilidade de algumas pessoas.

Desse lado, alguém fez a dita paragem estival?

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25
Set19

Revelações de um supersticioso confesso


João Silva

Não acredito que as superstições tenham influência nos resultados desportivos, mas, tal como acho que acontece com outros desportistas, por vezes, deixo o meu lado irracional falar mais alto.

Durante a adolescência, enquanto praticante de futebol, tinha superstições. Havia algumas coisas que me faziam acreditar que determinada ação condicionava os resultados.

Depois cresci, ganhei juízo, mas, enquanto adepto de futebol, mantive essa tara pelas superstições. O meu clube é o Borussia Dortmund, mas também simpatizo com o SL Benfica. Ou seja, se um destes clubes ganhasse jogando primeiro, ficava a achar que o outro iria perder ou empatar. Em miúdo essa tara era entre SL Benfica e Naval 1.º de Maio, o clube da minha terra, Figueira da Foz. Obviamente que não existe qualquer tipo de relação entre uma coisa e outra, mas lá está, deixamos a irracionalidade tomar conta da nossa cabeça em determinadas alturas.

E como corredor, tenho taras...perdão, superstições?

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Claro que sim, embora, com o passar do tempo, tenha retirado alguma relevância a esses detalhes.

A saber, são elas:

  • usar sempre os mesmos calções em provas;
  • usar sempre os mesmos boxers em provas;
  • usar sempre perneiras em provas e treinos longos mais duros;
  • nunca deixar de usar as fitas de suporte dos joelhos nas provas;
  • se não levar água comigo para as provas, acho que vão correr mal;
  • tirar sempre fotografias antes das provas;
  • se não sentir borburinho ao acordar no dia de provas ou de treinos mais duros, acho que vai correr mal;
  • se tiver feito um excelente resultado numa prova à chuva, fico a "pedir" que chova, senão não corre bem;
  •  se tiver de fazer provas sem lentes ou óculos, acho que vai correr mal;
  • se comer alguma coisa "estranha" (fora do habitual) no dia anterior, acho que vai correr mal;
  • se não ingerir a quantidade certa de água no dia anterior, acho que vai correr mal;
  • ter de abrir a porta que dá acesso ao espaço comum do condomínio (onde posso fazer alguns treinos) logo à primeira, isto é, se usar a chave errada, fico a pensar que o treino vai correr mal;
  • ter de começar os treinos à hora programada;
  • dizer a alguém (que não seja a esposa) que vou fazer um treino superior a 30 km, porque depois sinto-me pressionado e fico com a ideia de que pode haver acontecimentos negativos.

Quem mais se chega à frente e desvenda as suas idiossincrasias peculiares?

24
Set19

Matutino, vespertino ou noturno?


João Silva

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As opiniões dividem-se.

Começo por vos questionar: preferem treinar logo de manhã, à tarde ou à noite?

Considerando que há restrições laborais, peço-vos que se manifestem apenas tendo por base os dias ou semanas em que não estão a trabalhar. Ou seja, de forma geral como preferem realizar os vossos treinos?

Ao fim deste tempo todo, já tive a oportunidade de passar pelas três fases do dia. Por uma questão de organização, treino sempre ao início do dia. É mais fácil para depois organizar o meu dia e o meu trabalho.

Quando só podia treinar à noite, gostava muito, porque sentia o "peso" da libertação das frustrações do dia e porque tinha energia (tensão?) acumulada para dar e vender durante o treino. O lado mais negativo era treinar com chuva ou de noite cerrada na altura do inverno. Ainda assim, era agradável.

Treinar à tarde também não é algo de que desgoste. Ou melhor: é bom porque as reservas energéticas estão carregadas e há "material" para expulsar no treino. Por outro lado, não gosto tanto porque prejudica a organização do dia laboral, acaba por retirar fluidez e por dar a sensação de que há uma "tarefa" sempre à espera de ser realizada.

Deixei para último aquele período em que gosto mais de treinar, a manhã. Apesar de, pelo prisma negativo, as reservas não estarem devidamente carregadas e de ainda haver a ressaca do sono, o que confere alguma fraqueza, é uma altura muito boa para trajetos mais longos sem o risco de perder a luz natural. Além disso, a meu ver, a organização do dia é muito mais fácil de fazer.

É certo que, há cerca de um ano, houve alguém ligado à medicina a desaconselhar os treinos logo ao acordar, mas tal prendia-se com a necessidade de deixar o corpo "assentar" um pouco depois de se levantar e não por ser de manhã. Desde que me levanto até sair para correr passam cerca de 30 minutos, o que me dá tempo mais do que suficiente para ter o corpo impecável, sendo que aqui o uso do "impecável" é exagerado, já que são imensas as vezes em que acordo todo dorido dos treinos dos dias anteriores.

E o que dizem os entendidos? De forma mais ou menos unânime, recomenda-se a realização vespertina dos treinos, porque, supostamente, o corpo já terá acumulado energia suficiente para despender sem quebras. 

Fundamental, no meu entender, é que os treinos sejam feitos regularmente em horários semelhantes, criando desse modo uma rotina para o corpo e permitindo que os músculos tenham sempre um ciclo estável de recuperação entre sessões.

23
Set19

Correr por paixão ou para comer?


João Silva

Na verdade, as duas "versões" coexistem em vários corredores e, para ser honesto, algumas vezes na mesma pessoa.

Não sou hipócrita e eu próprio já estive nesse barco: pensa-se que, pelo facto de se praticar desporto, há uma espécie de via verde na comida.

Regra geral e ao longo destes quase três anos, em comparação, foram muito mais os meses em que corri por paixão do que aqueles em que o fiz para poder comer. No meu caso, nem foi propriamente para comer extravagâncias ou algo parecido, foi para poder comer em quantidade, foi com o intuito de suprimir os ataques de gula e as compulsões que, de vez em quando, lá dão sinal de vida.

Houve uma fase, na transição de dezembro de 2017 para o ano de 2018, em que estive mal, pesei perto de 60 kg, ou seja, andava subnutrido, passei de um extremo a outro sem conseguir ter o equilíbrio emocional necessário para perceber que estava numa piscina de areia movediça. E aí, a forma mais adequada para me "safar" foi aumentar o consumo, em alguns casos desenfreado, de muitas granolas (sempre caseiras, não compro, faço-as eu) ou de grandes quantidades de frutos secos. Não tenho problemas nem dificuldades em admitir que precisei da corrida para não deixar que a comida voltasse a tomar conta de mim. 

Qual a parte boa no meio disto tudo? Foi que consegui converter o aumento de massa gorda em massa muscular. Porquê? Porque nunca parei de fazer exercício, bem pelo contrário. Apesar de algum descontentamento que vivi naquela altura (sim, por muito que se goste de desporto, pode haver uma fase de alguma descrença ou de desânimo, é normal, faz parte da condição humana e em nada belisca a paixão pela modalidade), não me desorientei e, após alguns meses em baixo de forma, voltei onde queria. Melhor: cheguei melhor onde queria, porque sequei a massa que tinha e transformei-a em músculo.

Conheço muitos colegas que correm exclusivamente para poderem comer à vontade. Não vejo mal nisso, se tal significar alguma capacidade de controlo por parte de quem o faz. Por outro lado, trata-se de um círculo vicioso e o jogo, na minha opinião, ficará sempre do lado da comida. O corpo vai chegar a um ponto onde precisa de descanso e a comida, por seu turno, vai continuar a acumulação e a adição no nosso organismo.

Além disso, há ainda outro fator a ressalvar: comer perdidamente e correr perdidamente mais não é do que um jogo de acabar e começar, sendo que, se pretendermos alguma evolução física na modalidade, nunca sairemos da casa de partida, porque estaremos sempre a desfazer o que fizemos anteriormente. É uma espécie de pescadinha de rabo na boca.

Posto isto, não adoto essa filosofia do correr para comer não só porque isso seria perigoso para alguém que, como eu, foi obeso, mas também porque tenho ambições neste desporto e porque o vejo como uma paixão, como uma forma de evoluir e de me desafiar pessoalmente.

Desse lado, alguém corre/faz desporto exclusivamente para poder comer mais um pouco?

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22
Set19

De certeza que sim


João Silva

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Se não fosse corredor, de certeza que seria ciclista. Adoro ciclismo, acho mesmo que é o meu desporto preferido na ótica de espetador, muito à frente do futebol, paixão de infância.

Quanto ao atletismo, confesso que adoro os Jogos Olímpicos e vejo sempre que posso, mas não consigo assistir na TV a provas de meio fundo ou fundo (ou mesmo trails). Prefiro praticar a modalidade e não trocava por nada. No entanto, desde pequeno que me lembro de assistir a provas de ciclismo. Conforme seria expectável enquanto português, comecei a seguir a Volta a Portugal. Só na altura da universidade me tornei fã incondicional do Tour e agora já sou espetador regular e assíduo do Eurosport. Sempre que posso, vejo tudo o que há para ver de ciclismo.

Pela dureza e pela complexidade, as provas que mais me fascinam são as que metem muita montanha (média e alta) ao barulho. Com o tempo e graças aos comentadores do Eurosport Portugal, passei a gostar também de chegadas em linha e de contrarrelógio, que, ainda assim, é a categoria que me deixa mais desconsolado.

Tal como muita gente, andei de bicicleta quando era mais novo, mas foi já trintão que experimentei pela primeira vez ciclismo de estrada numa bicicleta profissional que me foi emprestada por uma pessoa com um excelente coração.

Até tremi quando peguei no "raio" da bicicleta, não só por saber que tinha custado os olhos, mas por estar a realizar um sonho. O "raio" do brinquedo tremia que nem varas verdes. Sente-se tudo, a colocação de mudanças é, por si só, merecedora de um curso e a nossa posição no assento e face ao guiador são muito importantes para não irmos dar um bejinho ao chão.

O ciclismo profissional é, talvez, o desporto mais duro, sobretudo, pelas condições climatéricas a que se está sujeito, pela horas intermináveis na estrada, pelo esforço físico e mental, pela dureza dos trajetos, mas também pelas altitudes quase inumanas.

Bem sei que o ciclismo ganhou muito má fama devido a alguns episódios infelizes, mas é muito mais do que isso. Além do mais, devido ao baixo impacto na estrutura óssea (em comparação com a corrida), serve como importante complemento. É incrível. Garanto que foi um dos motivos para ter conseguido "dobrar" a má forma em que estava. Confere-nos uma resistência absolutamente invejável.

Não menos importante, apresenta alguns conceitos muito úteis e que podem ser usados como auxílios de corrida. Foi, por exemplo, a ver ciclismo que percebi a importância do "ir na roda", ou seja, de encontrar alguém com o mesmo ritmo de passada e de, dessa forma, melhorar o desempenho em prova. 

Também graças a este desporto comecei a usar "ziguezagues" para subir em inclinações complicadas. Simplificando, trata-se de mudar constantemente de lado da estrada, em ziguezague, de forma progressiva. Desse modo, sobe-se mais rapidamente e o esforço é menor. Já pude comprovar a teoria.

Por tudo, o ciclismo de estrada é mesmo uma paixão que tenho e pareço um miúdo cada vez que saio para umas pedaladas. O último treino que fiz levou-me de Condeixa a Miranda do Corvo. Perante o entusiasmo, não resisti e tive de ir até à Lousã, regressando depois à casa de partida. Nesse dia foram quase 70 km de um sonho.

O lado negativo? Não havendo calções próprios, o rabo ressente-se e, a dada altura, fica dormente. A prática continuada sem o dito par de calções transforma-nos num verdadeiro babuíno.

21
Set19

Dores "esquecidas", dores "(re)aparecidas"


João Silva

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O ser humano é tramado! Quando estamos em dificuldades, revelamos "humildade", dizemos coisas como "não volto a fazer aquilo", "agora vai ser diferente" ou "aprendi a lição".

Talvez sirva como forma de baixar as expetativas. Talvez isso ajude, não duvido disso e sei que é a mais pura verdade.

Ainda assim, tiramos o tempo necessário, fazemos quase um reiniciar da máquina e seguimos o nosso caminho.

Daí a um tempo, o jogo muda, as mudanças foram bem assimiladas e, aparentemente, está tudo diferente. Só que não é bem assim. 

Talvez por não sentirmos a "respiração" do que nos fez mal, achamos que está tudo bem e eis que voltamos aos mesmos erros ou parecidos. Não é exatamente assim e não é sempre desta forma, mas apercebi-me bem disso no decurso dos últimos meses. Onde? Em aspetos tão simples como a ansiedade.

Durante os primeiros dois anos de treinos e provas, nas vésperas de longões ou de competições que me despertavam mais interesses, tinha problemas em dormir. Acordava muitas vezes, pensava muito no que ia acontecer e projetava cenários. Tem um lado benéfico, não questiono isso, mas tornava-se difícil de gerir e de suportar. Lembro-me perfeitamente do primeiro treino em que fiz 30 km. Que noite terrível, tão pouco descanso. Hoje, volvidos todos estes meses, continuo a respeitar a distância, mas aprendi a lidar com isso, tornou-se "normal".

No fim dos dois primeiros anos, os resultados começaram a piorar e precisei, a bem da minha sanidade mental, de baixar as expetativas e de aprender a treinar e a "competir" pelo prazer. Não é coincidência o facto de ter passado a dormir melhor. Aceitei a realidade e isso foi essencial para o que se seguiu: consegui trabalhar em "surdina", adaptei e mudei o que achei necessário e, sem dar muito conta disso, comecei a subir de forma. 

E o que significa isso? Tão só o facto de voltar a ganhar um certo burburinho antes de treinos mais importantes e duros, o facto de "acusar" alguma responsabilidade e de voltar a encarar as sessões com maior seriedade. 

Temos memória curta, só pode ser isso. 

Faço o que faço por gosto, porque é uma paixão, não por obsessão, obrigação ou pelos resultados, mas confesso sem problemas que o facto de ter regressado do "inferno" me deixa entusiasmado com o que aí vem, quero tanto desfrutar da evolução que tive e da forma como lidei com o "problema" que depois deixo isso resvalar para a responsabilidade.

Curioso ainda o facto de se perceber claramente o efeito de expetativas elevadas e baixas nas diferentes fases do desempenho desportivo. Moral da história: a pressão e as expetativas desmedidas podem ser um fardo em vez de um auxílio, mas isso também acaba por depender muito de cada um.

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