Sou uma tartaruga veloz...
João Silva
Trata-se de um tema sempre apetecível. Qualquer atleta se perde dois ou três minutos numa bela “discussão” sobre o assunto.
Tendo em conta o que vou amealhando de experiência, diria que a maior parte dos corredores de estrada privilegia a velocidade, os recordes pessoais e os tempos gerais. Por isso mesmo, para a maioria, interessa correr muito rápido, mais do que muito. Não é por acaso que se foca muito a questão nos minutos que se demora a percorrer um quilómetro, por exemplo. Também por isso não é de estranhar que os corredores de estrada (com as devidas exceções, nas quais me insiro) sobrevalorizem percursos planos e que esse seja um argumento de “atração” dos organizadores de provas.
A característica “resistência” é deixada mais para os corredores de trilhos ou meio fundistas e fundistas, isto porque, mais do que rapidez, se pede capacidade de sofrimento face a desníveis e a grandes distâncias. Neste tipo de provas, os percursos não são feitos a pensar em recordes pessoais, são, em vez disso, grandes distâncias ou grandes acumulados .
Não considero que estas duas características sejam incompatíveis e, na verdade, julgo mesmo que se complementam e que podem fazer o atleta evoluir positivamente.
Não sou um velocista, nem puro nem “criado”, pelo que a minha virtude se centra na capacidade de resistência. Para ganhar maior resistência e capacidade de sacríficio, é necessário fazer muitas subidas, rampas ou escadas, porque obrigam o corpo a trabalhar em desníveis desconfortáveis e com menos oxigénio do que em terreno plano.
Além disso, é importante submeter o corpo a longas distâncias. A junção do desgaste dos percursos prolongados e dos desníveis vão criar massa muscular, expandir a caixa torácica e, a longo prazo, aumentar a resistência.
Uma forte resistência, por sua vez, vai permitir manter um ritmo e uma cadência de passada constantes. Ou seja, durante uma prova de longa distância, a resistência vai, de forma indireta, aumentar a velocidade do corredor. Portanto, em última análise, há uma complementaridade.
Apesar de não me ver como veloz, procuro, de tempos a tempos, fazer treinos de velocidade, focando, sobretudo, em treinos de séries e em fartleks. A capacidade de brincar com ritmos de corrida, de aumentar durante determinado tempo e de, em seguida, abrandar, ou, por outro lado, a possibilidade de fazer sprints levam o corpo para o patamar seguinte.
Com efeito, também os treinos de velocidade obrigam o corredor a trabalhar com muito pouco oxigénio. Principalmente no treino de séries, não há margem para descansar e para recuperar da sessão anterior, pelo que o corpo vai ser obrigado a gerar oxigénio suficiente para os pulmões. Também neste âmbito a caixa torácica vai expandir.
Ora, uma vez mais se vai provar que existe complementaridade entre velocidade e resistência: por ser submetido a um exercício extremo de rapidez, o corpo vai ter de gerar resistência, por exemplo, para permitir um sprint ou uma variação de velocidade perto da meta ou numa prova curta de 100, 200 ou 400 metros.
Portanto, na minha opinião: resistência gera velocidade e velocidade cria resistência.