1, 2, 3, uma entrevista de cada vez
João Silva
Alguma vez fizeram uma prova com alguém do início ao fim?
Também nunca me tinha acontecido. Na verdade, nem procuro que suceda, a não ser que encontre alguém com um ritmo semelhante e que queira uma espécie de ajuda mútua.
No entanto, no passado dia 27 de fevereiro, aconteceu uma coisa engraçada: fui fazer um trail. E fui apenas para me divertir (coisa rara). Sucede que pouco depois do início do trail, este rapaz estava mais ao menos ao meu lado.
Conversa puxa conversa e acabámos por fazer o trail juntos (foi o primeiro dele). O que me fascinou? Ter encontrado no monte mais alguém com uma enorme paixão pela corrida em estrada. E trata-se de alguém que já passou por grandes experiências em tão pouco tempo de modalidade.
Tinha de o "trazer" para aqui. Foi algo tão óbvio para mim que nem hesitei na hora de lhe pedir uma entrevista, assim que cruzámos a meta no final desse trail...
Ficou a vontade de treinar com ele e de o reencontrar em provas.
Fiquem, pois, com o Bruno Silva:
Nome:
Bruno Silva
Idade:
40 anos
Equipa:
ARCD Venda da Luísa
Praticante de atletismo desde
2016
Modalidade atletismo preferida:
Prefiro claramente atletismo de estrada, sobretudo as meias maratonas.
Prefere curtas ou longas distâncias:
Meias maratonas
Na atual equipa desde
2020
Volume de treinos por semana:
Costumo treinar entre 3 e 5 vezes por semana, dependendo se tenho provas ou não e se tenho algum objetivo específico para essa prova. Actualmente não tenho treinador.
A importância dos treinos:
Os treinos são importantes por uma série de fatores: para além da preparação física que te dá, fortalece-te também mentalmente, não só porque aprendes a sofrer, mas também porque quando acontece uma adversidade começas a encará-la com otimismo. O exemplo mais comum são as lesões. É difícil lidar com elas, sobretudo quando isso arrasa uma preparação de meses. Mas é com elas que evoluis e corriges erros. Aprendes também a conhecer-te, a conhecer melhor o teu corpo e a perceber onde estão os teus limites. O foco e a determinação nos treinos são fundamentais para que as provas te corram dentro do planeado.
Se tem ou não treinador:
Tive nos primeiros anos em que representei o Núcleo de atletismo de Vila Real, mas depois deixei de ter.
Diferenças entre o atletismo passado e o atual:
O atletismo na atualidade mudou para melhor. Hoje dispomos de melhores condições, melhor calçado,temos pistas onde treinar, temos caminhos marcados no monte, temos relógios que nos dão toda a informação não só do teu treino como do desempenho do teu corpo e do tempo que necessitas para recuperar, enfim, hoje dispomos de uma série de tecnologias e de profissionais ligados a está modalidade que há uns anos não existiam. Tudo isto tem a ver não só com a evolução normal da tecnologia mas também, e sobretudo, com o aumento do número de praticantes amadores. Mesmo da época em que comecei a correr para os dias de hoje se vêem cada vez mais atletas não só na estrada, mas sobretudo no monte. O trail a meu ver foi a modalidade que mais praticantes ganhou nestes anos mais próximos.
Aventura marcante:
Várias foram as provas que me marcaram. A corrida da Hello porque foi a minha primeira prova oficial, as duas meias Maratona da Ria de Aveiro, porque numa me estreei na distância e na outra porque foi a primeira vez que baixei da marca psicológica de 1:30h na distância. Mas ficaram ainda na memória a Meia maratona de Guimarães, porque foi a prova onde passei pior e onde retirei grandes lições para o futuro, e a Meia Maratona de Viseu por ser a prova em que começando mal acabei por realizar a minha melhor marca na distância. Esta prova também me marcou por ter sido a última oficial que fiz nesta distância. Por fim, e ainda fresquinho na memória, o Trail do Sico deste ano, por ter sido o primeiro trail que realizei.
Objetivos pessoais futuros:
Para o futuro não há muito ainda em mente. Havia o objetivo de realizar a maratona aos 40 anos, por ser uma data emblemática, e como tal tinha idealizado uma prova emblemática, realizada num local emblemático, preferencialmente, Atenas. A pandemia e alguns problemas que vão surgindo nos joelhos adiaram ou hipotecaram essa hipótese (o futuro o dirá). Para já o futuro mais próximo passa pelas meias maratonas e quem sabe a realização de alguns trails mais longos. De uma coisa tenho a certeza, passe pelas provas que passar o objetivo será sempre o mesmo: desfrutar e divertir-me.
Como imagina o atletismo daqui a cinco anos?
Sinceramente é difícil perspetivar o atletismo a cinco anos, até porque o atletismo vive dos praticantes amadores, há poucos profissionais, não é uma modalidade que seja apoiada como outras modalidades e daí também o desaparecimento do nosso país nos lugares cimeiros do atletismo na Europa e no mundo. Sem investimento não poderemos ter atletas profissionais que se dediquem por inteiro e que representem o país dignamente. Assim sendo o atletismo vai sempre depender do número de praticantes amadores para sobreviver nos próximos anos e isso pode afetar a modalidade porque muitos atletas amadores acompanham as modas e podem deixar o atletismo. Quando comecei havia muitos atletas de estrada, hoje o trail está na moda, mas também muitos viraram para o ciclismo que é a moda mais recente. Aos poucos as pessoas podemvirar-se para outras modalidades e o atletismo cair no esquecimento. Isso será prejudicial para a modalidade porque pode colocar em causa a realização de provas que são importantes hoje em dia tambémpara a divulgação das regiões que acolhem essas provas e para a dinamização do comércio local.
Como se imagina no atletismo daqui a cinco anos?
Dentro de cinco anos espero sinceramente continuar a correr e ter mais alguns kms nas pernas (risos). Ter realizado provas mais longas quer de trail, quer de estrada. São o objetivo.
Como é que a COVID afetou a evolução como atleta?
Inicialmente o Covid afetou a evolução de todos os atletas. Não se podia treinar, porque havia medo e depois não havia motivação, não só pela pandemia como pela inexistência de provas e se o atleta treina para descansar a mente, também gosta de ter no horizonte a sua prova (risos).
Foto: primeira prova realizada pela ARCD Venda da Luísa
O que mudou nas provas com a pandemia?
Com a pandemia surgiram as provas virtuais. Foi uma forma de se conseguir ter algum foco nos treinos, embora nem de longe nem de perto seja a mesma coisa pois ninguém gosta de correr sozinho.
Essas mudanças são boas para a modalidade?
Com a pandemia surgiram medidas sanitárias mais apertadas e isso também é positivo para a modalidade. Sinceramente acho que esta pandemia fortaleceu ainda mais os atletas, tornou-os mais resilientes, como tal acho que a pandemia também trouxe algumas coisas boas para a modalidade.
Foto: primeiro trail (Trail de Sicó)