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O que não mata, engorda e transforma-te num maratonista

Em 2016 era obeso, hoje sou maratonista (6 oficiais e quase 20 meias-maratonas). A viagem segue agora com muita dedicação, meditação, foco e crença na partilha das histórias e do conhecimeto na corrida.

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29
Mar22

1, 2, 3, uma entrevista de cada vez


João Silva

Alguma vez fizeram uma prova com alguém do início ao fim?

Também nunca me tinha acontecido. Na verdade, nem procuro que suceda, a não ser que encontre alguém com um ritmo semelhante e que queira uma espécie de ajuda mútua.

No entanto, no passado dia 27 de fevereiro, aconteceu uma coisa engraçada: fui fazer um trail. E fui apenas para me divertir (coisa rara). Sucede que pouco depois do início do trail, este rapaz estava mais ao menos ao meu lado.

Conversa puxa conversa e acabámos por fazer o trail juntos (foi o primeiro dele). O que me fascinou? Ter encontrado no monte mais alguém com uma enorme paixão pela corrida em estrada. E trata-se de alguém que já passou por grandes experiências em tão pouco tempo de modalidade. 

Tinha de o "trazer" para aqui. Foi algo tão óbvio para mim que nem hesitei na hora de lhe pedir uma entrevista, assim que cruzámos a meta no final desse trail...

Ficou a vontade de treinar com ele e de o reencontrar em provas.

Fiquem, pois, com o Bruno Silva:

IMG_20220304_210244.jpg

Nome:

Bruno Silva

Idade:

40 anos

Equipa:

ARCD Venda da Luísa 

Praticante de atletismo desde

2016

Modalidade atletismo preferida:

Prefiro claramente atletismo de estrada, sobretudo as meias maratonas.

 

IMG_20220304_210516.jpg

Prefere curtas ou longas distâncias:

Meias maratonas

Na atual equipa desde

2020

Volume de treinos por semana:

Costumo treinar entre 3 e 5 vezes por semana, dependendo se tenho provas ou não e se tenho algum objetivo específico para essa prova. Actualmente não tenho treinador.

A importância dos treinos:

Os treinos são importantes por uma série de fatores: para além da preparação física que te dá, fortalece-te também mentalmente, não só porque aprendes a sofrer, mas também porque quando acontece uma adversidade começas a encará-la com otimismo. O exemplo mais comum são as lesões. É difícil lidar com elas, sobretudo quando isso arrasa uma preparação de meses. Mas é com elas que evoluis e corriges erros. Aprendes também a conhecer-te, a conhecer melhor o teu corpo e a perceber onde estão os teus limites. O foco e a determinação nos treinos são fundamentais para que as provas te corram dentro do planeado.

Se tem ou não treinador:

Tive nos primeiros anos em que representei o Núcleo de atletismo de Vila Real, mas depois deixei de ter.

Diferenças entre o atletismo passado e o atual:

O atletismo na atualidade mudou para melhor. Hoje dispomos de melhores condições, melhor calçado,temos pistas onde treinar, temos caminhos marcados no monte, temos relógios que nos dão toda a informação não só do teu treino como do desempenho do teu corpo e do tempo que necessitas para recuperar, enfim, hoje dispomos de uma série de tecnologias e de profissionais ligados a está modalidade que há uns anos não existiam. Tudo isto tem a ver não só com a evolução normal da tecnologia mas também, e sobretudo, com o aumento do número de praticantes amadores. Mesmo da época em que comecei a correr para os dias de hoje se vêem cada vez mais atletas não só na estrada, mas sobretudo no monte. O trail a meu ver foi a modalidade que mais praticantes ganhou nestes anos mais próximos.

IMG_20220304_210134.jpg

Aventura marcante:

Várias foram as provas que me marcaram. A corrida da Hello porque foi a minha primeira prova oficial, as duas meias Maratona da Ria de Aveiro, porque numa me estreei na distância e na outra porque foi a primeira vez que baixei da marca psicológica de 1:30h na distância. Mas ficaram ainda na memória a Meia maratona de Guimarães, porque foi a prova onde passei pior e onde retirei grandes lições para o futuro, e a Meia Maratona de Viseu por ser a prova em que começando mal acabei por realizar a minha melhor marca na distância. Esta prova também me marcou por ter sido a última oficial que fiz nesta distância. Por fim, e ainda fresquinho na memória, o Trail do Sico deste ano, por ter sido o primeiro trail que realizei.

Objetivos pessoais futuros:

Para o futuro não há muito ainda em mente. Havia o objetivo de realizar a maratona aos 40 anos, por ser uma data emblemática, e como tal tinha idealizado uma prova emblemática, realizada num local emblemático, preferencialmente, Atenas. A pandemia e alguns problemas que vão surgindo nos joelhos adiaram ou hipotecaram essa hipótese (o futuro o dirá). Para já o futuro mais próximo passa pelas meias maratonas e quem sabe a realização de alguns trails mais longos. De uma coisa tenho a certeza, passe pelas provas que passar o objetivo será sempre o mesmo: desfrutar e divertir-me.

Como imagina o atletismo daqui a cinco anos?

Sinceramente é difícil perspetivar o atletismo a cinco anos, até porque o atletismo vive dos praticantes amadores, há poucos profissionais, não é uma modalidade que seja apoiada como outras modalidades e daí também o desaparecimento do nosso país nos lugares cimeiros do atletismo na Europa e no mundo. Sem investimento não poderemos ter atletas profissionais que se dediquem por inteiro e que representem o país dignamente. Assim sendo o atletismo vai sempre depender do número de praticantes amadores para sobreviver nos próximos anos e isso pode afetar a modalidade porque muitos atletas amadores acompanham as modas e podem deixar o atletismo. Quando comecei havia muitos atletas de estrada, hoje o trail está na moda, mas também muitos viraram para o ciclismo que é a moda mais recente. Aos poucos as pessoas podemvirar-se para outras modalidades e o atletismo cair no esquecimento. Isso será prejudicial para a modalidade porque pode colocar em causa a realização de provas que são importantes hoje em dia tambémpara a divulgação das regiões que acolhem essas provas e para a dinamização do comércio local.

Como se imagina no atletismo daqui a cinco anos?

Dentro de cinco anos espero sinceramente continuar a correr e ter mais alguns kms nas pernas (risos). Ter realizado provas mais longas quer de trail, quer de estrada. São o objetivo.

Como é que a COVID afetou a evolução como atleta?

Inicialmente o Covid afetou a evolução de todos os atletas. Não se podia treinar, porque havia medo e depois não havia motivação, não só pela pandemia como pela inexistência de provas e se o atleta treina para descansar a mente, também gosta de ter no horizonte a sua prova (risos).

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Foto: primeira prova realizada pela ARCD Venda da Luísa

O que mudou nas provas com a pandemia?

Com a pandemia surgiram as provas virtuais. Foi uma forma de se conseguir ter algum foco nos treinos, embora nem de longe nem de perto seja a mesma coisa pois ninguém gosta de correr sozinho.

Essas mudanças são boas para a modalidade?

Com a pandemia surgiram medidas sanitárias mais apertadas e isso também é positivo para a modalidade. Sinceramente acho que esta pandemia fortaleceu ainda mais os atletas, tornou-os mais resilientes, como tal acho que a pandemia também trouxe algumas coisas boas para a modalidade.

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Foto: primeiro trail (Trail de Sicó)

 

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