1, 2, 3 uma entrevista de cada vez
João Silva
Hoje trago-vos uma atleta com quem ainda não falei pessoalmente mas de cuja bravura fiquei fã quando o seu namorado, o Bruno Silva, me falou de uma aventura que teve na noite em que alcançou uma enorme proeza na Madeira: partiu a cabeça!!
Tinha de a entrevistar. E fiquei com as melhores impressões, pois, claramente, por detrás desta atleta está uma pessoa com ideias claras quanto à sua paixão pelo atletismo e quanto à afirmação do seu género na modalidade.
Confirmem lá se não vos digo a verdade.
Fiquem, pois, com a Rafaela:
Foto: Trail vale dourado de Famalicão
Nome:
Rafaela Bento
Idade:
34 anos
Equipa:
CTM Vila Pouca de Aguiar
Praticante de atletismo desde
2016
Modalidade atletismo preferida:
Trail
Prefere curtas ou longas distâncias:
Prefiro distâncias longas (ultra trails)
Na atual equipa desde
Estou no CTM desde a época 2018/2019
Foto: 57 km do Trail de Sicó
Volume de treinos por semana:
Treinos 4/5 por semana
A importância dos treinos:
Os treinos são extremamente importantes para conseguirmos alcançar os nossos objetivos.
Diferenças entre o atletismo passado e o atual:
Atualmente o atletismo tem sido visto como algo positivo, contudo, ainda pouco valorizado, ou nada, face a outras modalidades desportivas.
Foto: MIUT (Madeira)
Aventura marcante:
Até ao momento tenho como atividade marcante o primeiro trail que fiz em Vila Pouca de Aguiar, apenas 10kms que para mim foram uma grande conquista. “Os montes” de Vila Pouca tem uma beleza incrível, quer seja em prova ou em treinos é fascinante. Outra prova que amei ter feito foi TPG, Transpeneda Gerês, 105kms (em 2021). O Gerês é a minha serra de eleição e é lá que faço as minhas grandes aventuras.
Há uma ilha que adoro e também me fez sonhar no mundo dos trails, a Ilha da Madeira e fui conquistar o sonho de correr entre o Pico Ruivo e Pico do Areeiro. Esta conquista foi em novembro de 2021. Participei nos 85kms do MIUT.
Objetivos pessoais futuros:
Os meus objetivos continuam a ser os ultra trails. Nestas provas consigo estar bastante tempo eu a Natureza e aqui sou muito feliz. Emoções sentidas que não há palavras para explica-las. Contudo, de vez em quando traço um objetivo maior e aventuro-me numa prova de três dígitos.
Ano após ano, há mais interessados pelo atletismo e espero que aumente nos próximos anos. Sejamos a inspiração de quem nos rodeia. Enquanto tiver possibilidade continuo no atletismo. Participo em diversas provas, dos 8 aos 80 kms (ou ainda mais) de modo a sentir-me bem e divertir-me. Algumas provas são pela estrada, algumas também gosto. Contudo, o mundo do trail é a minha prioridade.
Foto: 85 km do MIUT
Como é que a COVID afetou a evolução como atleta?
A pandemia veio alterar muitos hábitos a todos nós. Uns aspetos positivos, outros negativos. Se observarmos a maioria das pessoas vemos constantes lamentações porque estão demasiado isoladas devido ao vírus, mas será que é devido ao vírus ou a elas próprias? Eis a questão.
Nesta fase tive mais tempo para treinar porque tive menos trabalho. Sou grata por essa oportunidade. Contudo, senti falta das provas, de sairmos em grupo, acordar cedo e irmos para uma prova. Mantive o foco nas provas que pretendia atingir, treinei e assim foi, consegui atingir os objetivos que me tinha proposto.
O que mudou nas provas com a pandemia?
Com a pandemia foram poucas as provas que se realizaram e as que se realizaram tinham menos atletas o que acabou por afetar a motivação. Durante a prova, as regras são basicamente as que existem no dia a dia. É preciso sabermo-nos adaptar às mudanças.
Foto: Trail de Vila Pouca de Aguiar
Essas mudanças são boas para a modalidade?
As mudanças são boas para a modalidade se houver mudar a consciência do ser humano.
Porque existem tão poucas mulheres no atletismo?
A meu ver nenhuma modalidade desportiva levada a sério (mesmo amadores temos que nos dedicar), pelo menos minimamente, requer bastante dedicação, foco, disciplina, coragem, resiliência e paciência e muitas mulheres não estão dispostas a isso.
Com dedicação conseguimos fazer o que ambicionamos sem nos deixar afetar pelos/as “parasitas” que preferem ficar no café a beber, a fumar, a comer (ou seja lá o que for que os prejudica mais que o atletismo) e chamam viciados aos atletas. Cada atleta deve fazer o que a motiva. Nós temos a capacidade de criar o nosso bem-estar, não precisamos de recorrer a nada externo. Basta movimentarmo-nos, sim, o corpo foi feito para estar em movimento, dai termos pernas e não raízes.
A dedicação ao atletismo (como tantas outras coisas) tem ganhos e perdas. Saibamos escolher o que é melhor para nós. Façamos escolhas conscientes se o que escolhemos é para nossa felicidade ou por base no dito correto ou melhor. Saibamos escutar o nosso sentir.
Porque há tão poucas a fazer grandes distâncias?
A mulher ainda tem muito trabalho a fazer na sociedade e poderia começar a dedicar-se a si em primeiro lugar para a seguir tudo vir na medida certa. As grandes distâncias requerem muita dedicação. É preciso gerir o tempo para planear o trabalho, o lar e o social.
Quando se faz uma gestão do tempo equilibrada temos a possibilidade de conquistarmos o que desejarmos.
Existe alguma diferença no tratamento das mulheres face aos homens no atletismo?
Na mentalidade medíocre, a mulher ainda é criticada, mas cabe a cada uma dar a resposta à sua altura quando temos consciência que fazemos o melhor resta-nos continuar a fazer o nosso caminho.
Foto: 105 km do TPG